sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Capitulo 3

3. Fenômeno

Sinceramente, eu não estava sedento, mas eu decidi caçar novamente naquela noite. Uma
pequena quantidade para prevenir, eu sei que seria inadequado.
Carlisle veio comigo; nós não ficávamos juntos sozinhos desde que eu retornei de Denali.
Enquanto nós corríamos pela floresta negra, eu o escutei pensando sobre aquele rápido
adeus da semana passada.
Em sua memória, eu vi a maneira que as minhas feições tinham se contraído em um feroz
desespero. Eu senti a surpresa dele e a repentina preocupação.
“Edward?”
“Eu tenho que ir Carlisle. Tenho que ir agora.”
“O que aconteceu?”
“Nada. Ainda. Mas irá, se eu ficar.”
Ele alcançou o meu braço. Eu senti como doeu para ele quando eu recuei da sua mão.
“Eu não entendo.”
“Você já… já houve algum momento…”
Eu me vi dando uma profunda respiração, vi a selvagem luz nos meus olhos através do
filtro de preocupação dele.
“Alguém já cheirou pra você melhor do que o resto das pessoas? Muito melhor?”
“Oh.”
Quando eu soube que ele tinha entendido, meu rosto caiu com vergonha. Ele me alcançou
para me tocar, ignorando quando eu recuei de novo, e deixou sua mão em meu ombro.
“Faça o que você deve para resistir, filho. Sentirei tua falta. Aqui, pegue o meu carro. É
mais rápido.”
Ele estava se perguntando agora se ele tinha feito a coisa certa antes, me mandando para
longe. Se perguntando se ele teria me machucado com a sua falta de confiança.
“Não,” eu sussurrei enquanto eu corria. “Aquilo era o que eu precisava. Eu poderia tão
facilmente ter traído aquela confiança, se você tivesse me falado pra ficar.”
“Desculpe se você está sofrendo, Edward. Mas você deve fazer o que pode para manter a
criança Swan viva. Mesmo se isso signifique que você tem que nos deixar novamente.”
“Eu sei, eu sei.”
“Por que você voltou? Você sabe o quão feliz eu fico por te ter aqui, mas se isso é muito
difícil…”
“Eu não gostei de me sentir um covarde,” eu admiti.
Nós desaceleramos - nós estávamos praticamente caminhando através da escuridão agora.
“Melhor do que botar ela em perigo. Ela partirá em um ano ou dois.”
“Você tem razão, eu sei disso.” Ao contrário, apesar, as palavras dele apenas me deixaram
mais ansioso pra ficar. A garota partiria em um ano ou dois…
Carlisle parou de correr e eu parei com ele; ele se virou para examinar a minha expressão.
Mas você não vai fugir, vai?
Eu deixei a minha cabeça cair.
É por orgulho, Edward? Não há porque ter vergonha -
“Não, não é o orgulho que me mantêm aqui. Não agora.”
Você precisa ir neste momento?
Eu suspirei brevemente. “Não. Isso não é por mim, se fosse por mim, eu já teria ido.”
“Eu vou ficar com você, é claro, se você precisar. É só você dizer. É só você não se queixar
ao resto. Eles não terão má vontade com isso.”
Ergui uma das sobrancelhas.
Ele suspirou. “Sim, Rosalie poderia, mas ela não deveria. Seja como for, é muito melhor
para nós, irmos agora, sem ter feito nenhum dano, do que irmos mais tarde, depois de que
uma vida tenha sido encerrada,” Todo humor havia chegado ao fim.
Eu fiquei com medo de suas palavras.
“Sim,” Eu concordei. Minha voz soou rouca.
Mas você está partindo?
Eu suspirei. “Eu deveria.”
“O que você está fazendo aqui, Edward? Não consigo ver…”
“Não sei como explicar,” Mesmo para mim, ainda não fazia sentido.
Ele mediu minha expressão por um longo tempo.
Não, eu não consigo ver. Mas eu vou respeitar sua privacidade, se você prefere.
“Muito obrigado. É generoso de sua parte, eu não dou privacidade a ninguém.” Com uma
exceção. E eu estava fazendo o que eu podia para impedir isso, não estava?
Todos nós temos nossas peculiaridades. Ele riu novamente. Vamos?
Ele havia acabado de sentir o rastro de um pequeno rebanho de cervos. Era difícil reunir
muito entusiasmo pelo que era, mesmo nas melhores circunstâncias, um aroma que fazia
menos que dar água na boca. Agora, certamente, com a memória do sangue fresco da
garota na minha mente, o aroma na verdade revirava o meu estômago.
Eu suspirei. “Vamos,” eu concordei, apesar de saber que forçar mais sangue por minha
garganta não ajudaria muito.
Nós dois assumimos uma posição de caçada e deixamos o rastro que nos guiasse e nos
puxamos em silêncio para frente.
Estava mais frio quando voltamos para casa. A neve derretida havia congelado novamente;
era como se um fino lençol de vidro cobrisse tudo - cada ponta de pinheiro, cada folha das
plantas, cada lâmina de grama estava congelada.
Enquanto Carlisle foi se vestir para seu primeiro turno no hospital, eu fiquei perto do rio,
esperando o sol nascer. Eu me sentia quase inchado de tanto sangue que havia
consumido, mas eu sabia que a falta de sede significaria pouco quando eu sentasse ao
lado da garota de novo.
Frio e estático como a pedra em que me sentava, eu encarei a água fria que corria ao lado
da margem congelada, encarando aquela cena.
Carlisle estava certo. Eu devia deixar Forks. Eles poderiam espalhar alguma história para
explicar a minha ausência. Intercâmbio na Europa. Visitando parentes distantes. Fuga
adolescente. A história não importava. Ninguém ia questionar muito.
Levaria apenas um ano ou dois para a garota desaparecer. Ela seguiria enfrente com a vida
dela - ela teria que seguir enfrente com sua vida. Ela iria à faculdade de algum lugar, ficar
mais velha, começar uma carreira, possivelmente até se casar com alguém. Eu podia
imaginar isso - Eu podia ver a garota toda vestida de branco andando em uma profunda
paz, de braços dados com seu pai.
Era sem igual a dor que aquela imagem me causou. Eu não podia entender aquilo. Eu
estava com ciúmes, por que ela tinha um futuro que eu nunca teria? Aquilo não fazia
sentido. Todos os humanos a minha volta tinham o mesmo potencial - uma vida - eu
raramente tinha parado para envejá-los.
Eu devia deixá-la para seu futuro. Parar de arriscar a vida dela. Essa era a coisa mais certa
a se fazer. Carlisle sempre escolhia o jeito certo. Eu devia escutá-lo agora.
O sol aumentou atrás das nuvens, e a luz fraca brilhou de todo o vidro congelado
Mais um dia, eu decidi. Eu podia vê-la uma vez mais. Podia lidar com aquilo. Possivelmente
eu mencionaria o meu desaparecimento pendente, trazendo a história a tona.
Aquilo seria difícil; Eu podia sentir isso em cada pesada relutância que já estava me
fazendo pensar em desculpas para dizer - para estender o prazo por dois dias, três,
quatro… Mas eu não estaria fazendo a coisa certa. Eu sabia que podia confiar no aviso de
Carlisle. E eu também sabia que podia ser muito difícil tomar a decisão certa sozinho.
Muito difícil. O quanto dessa relutância vinha da minha obsessiva curiosidade, e quanto
vinha do meu insatisfeito apetite?
Eu entrei para trocar de roupa, para ir à escola.
Alice estava esperando por mim, sentada no topo da borda do terceiro andar.
Você está indo embora de novo, ela me acusou.
Suspirei e acenei com cabeça
Eu não consigo ver onde você está indo desta vez.
“Eu não sei para onde estou indo ainda,” eu sussurrei.
Eu quero que você fique.
Eu balancei minha cabeça.
Talvez eu e Jazz possamos ir com você?
“Eles vão precisar mais de você agora, se eu não estou aqui para olhar por eles. E pense
em Esme. Eu levaria metade da família dela embora de uma vez?”
Você vai fazê-la tão triste.
“Eu sei. Por isso você tem que ficar.”
Não é o mesmo sem você aqui, você sabe disso.
“Sim. Mas eu tenho que fazer o que é certo.”
Existem vários jeitos certos, e muitos errados, pense, não está lá?
Por um curto momento ela foi até uma de suas estranhas visões; eu assisti junto com ela
como as imagens indistintas apareciam e giraram. Eu vi a mim mesmo dentro dessas
visões com estranhas sombras que eu não conseguia compreender - nebulosas, imprecisas
formas.
E então, de repente, minha pele estava brilhando na luz do sol de uma pequena e aberta
clareira. Eu conhecia este lugar. Havia uma figura na clareira comigo, mas novamente, era
indistinta, não ali o suficiente para reconhecer. As imagens tremeram e desapareceram
quando um milhão de pequenas escolhas rearranjaram o futuro novamente.
“Eu não absorvi muito disso,” eu disse quando a visão ficou escura.
Eu também. Seu futuro está mudando e mudando tanto que eu não consigo acompanhar.
Mas eu acho que…
Ela parou, e vagueou por uma vasta coleção de outras visões recentes para mim. Eram
todas iguais - borradas e vagas.
“Eu acho que algo está mudando, na verdade,” ela disse em voz alta. “Sua vida parece que
alcançou uma encruzilhada.”
Eu ri, austero. “Você tem noção de que soa como uma cigana charlatona em um parque de
diversões agora, certo?”
Ela mostrou sua pequena língua.
“Hoje está tudo bem, não é?” perguntei, minha voz abruptamente apreensiva.
“Não vejo você matando ninguém hoje,” ela me garantiu.
“Obrigado, Alice.”
“Vá se trocar. Não direi nada - deixarei que você conte aos outros quando estiver pronto.”
Ela levantou-se e seguiu escada abaixo, seus ombros um pouco curvados. Sentirei sua
falta. Muito.
Sim, eu também sentiria a falta dela.
Foi uma viagem quieta até o colégio. Jasper podia dizer que Alice estava brava com
alguma coisa, mas ele sabia que se ela quisesse falar sobre isso já o teria feito. Emmett e
Rosalie estavam distraídos, tendo outro de seus momentos, olhando um nos olhos do outro
com admiração- era um tanto nojento de se assistir pelo lado de fora. Nós todos sabíamos
o quão desesperadamente apaixonados eles estavam. Ou talvez eu apenas estivesse sendo
amargo por ser o único sozinho. Alguns dias eram piores que outros de se conviver com
três casais perfeitos e apaixonados. Esse era um desses dias.
Talvez eles fossem mais felizes sem mim por perto, com meu temperamento ruim e hostil
como o senhor de idade que eu deveria ser agora.
Claro, a primeira coisa que fiz quando chegamos ao colégio foi procurar a garota. Apenas
me preparando novamente.
Certo.
Era embaraçoso como meu mundo de repente parecia ser vazio de tudo, menos ela - toda
a minha existência centrada ao redor dessa garota, ao invés de em mim mesmo.
Era fácil de entender, na verdade; depois de oitenta anos da mesma coisa, todo dia, toda
noite, qualquer mudança era motivo de interesse.
Ela ainda não chegara, mas eu podia ouvir o barulho de trovão do motor de sua picape ao
longe. Inclinei-me ao lado do carro para esperar. Alice esperou comigo, enquanto os outros
foram direto para suas aulas. Estavam entediados com minha fixação - era incompreensível
para eles como qualquer humano pudesse despertar tanto interesse em mim por tanto
tempo, não importava o quão delicioso o cheiro dela era.
A garota aos poucos entrou em meu campo de visão, seus olhos na estrada e suas mãos
segurando com força o volante. Ela parecia ansiosa com algo. Levei um segundo para
entender o que o algo seria, para perceber que todo humano tinha a mesma expressão
hoje. Ah, a estrada estava escorregadia por causa do gelo, e eles estavam todos dirigindo
com cuidado. Eu podia ver que ela levava o risco a sério.
Aquilo parecia alinhado com o pouco que eu já aprendera sobre sua personalidade.
Adicionei aquilo à pequena lista: ela era uma pessoa séria, responsável.
Ela estacionou não muito longe de mim, mas ainda não notara minha presença ainda,
encarando-a. Pensei no que ela faria quando percebesse? Coraria e iria embora?
Aquele era meu primeiro palpite. Mas talvez ela me encarasse de volta. Talvez ela viesse
falar comigo.
Inspirei fundo, enchendo meus pulmões. Esperançoso, apenas por precaução.
Ela saiu da picape com cuidado, testando o chão escorregadio antes que ela pusesse todo
seu peso nele. Não olhou para cima, e isso me frustrou. Talvez eu devesse falar com ela…
Não, isso seria errado.
Ao invés de virar em direção ao colégio, ela caminhou até a traseira da picape, segurandose
no lado da picape de um jeito atrapalhado, não confiando em seus passos. Isso me fez
sorrir, e eu senti os olhos de Alice em meu rosto. Não ouvi seja lá o que isso a fez pensar -
eu estava me divertindo muito observando a garota checar as correntes nos pneus. Ela
realmente parecia que estava prestes a escorregar, da maneira que seus pés deslizavam
no chão. Ninguém mais parecia ter o mesmo problema - teria ela estacionado na pior parte
do gelo?
Ela parou por um momento, olhando para os pneus com uma expressão estranha no rosto.
Era… ternura? Como se algo com relação aos pneus a deixasse… emocionada?
Novamente, a curiosidade doeu como a sede. Era como se eu precisasse saber o que ela
estava pensando - como se mais nada importasse.
Eu iria falar com ela. Ela parecia que precisava de uma ajuda de qualquer modo, pelo
menos até que ela estivesse fora da zona escorregadia de gelo. Claro, eu não poderia lhe
oferecer ajuda, não é? Hesitei, dividido. Por mais contrária que ela parecia com relação à
neve, dificilmente ela acharia agradável o toque de minhas mãos brancas e frias. Eu devia
ter usado luvas -
“NÃO!” Alice ofegou alto.
Instantaneamente, li seus pensamentos, imaginando primeiro que eu deveria ter feito uma
escolha ruim e ela me viu fazendo algo imperdoável. Mas não era nada a ver comigo.
Tyler Crowley escolhera fazer a curva do estacionamento rápido demais. Essa escolha o
faria deslizar no gelo…
A visão aconteceu a menos de meio segundo da realidade. A van de Tyler rodou na
esquina enquanto eu assistia o final que deixou Alice sem fôlego.
Não, essa visão não tinha nada a ver comigo, mas ainda assim tinha tudo a ver comigo,
porque a van de Tyler - os pneus agora tocando o gelo num ângulo pior, impossível - ia
rodar pelo estacionamento e bater na garota que se tornara o foco não intencional de meu
mundo.
Mesmo sem Alice prevendo, teria sido fácil adivinhar a trajetória do veículo, saindo do
controle de Tyler.
A garota, parada no lugar exatamente errado na traseira da picape, olhou para cima,
confusa com o barulho dos pneus cantando no asfalto. Ela olhou diretamente nos meus
olhos horrorizados, e virou-se para observar sua morte iminente.
Ela, não! As palavras gritaram em minha mente, como se pertencessem a outra pessoa.
Ainda preso aos pensamentos de Alice, percebi que a visão de repente se modificava, mas
não tive tempo de ver o que aconteceria então.
Atirei-me pelo estacionamento, jogando-me entre a van desgovernada e a garota
petrificada. Movimentei-me tão depressa que tudo parecia apenas um borrão, menos o
objeto em que eu estava focado. Ela não me viu - nenhum olho humano conseguiria
acompanhar minha movimentação - ainda encarando a forma que estava prestes a prensála
na estrutura metálica de sua picape.
A peguei pela cintura, movendo com urgência para ser tão gentil quanto fosse possível. No
centésimo de segundo entre o tempo que levei para tirá-la do caminho da morte e o tempo
que levei para cair no chão com ela em meus braços, eu estava vividamente consciente da
fragilidade de seu corpo.
Quando ouvi sua cabeça bater contra o gelo, senti como se eu tivesse virado gelo também.
Mas eu não tinha nem mesmo um segundo inteiro para me certificar de sua condição.
Escutei a van atrás de nós, girando barulhenta enquanto batia no corpo metálico da picape
da garota. Estava mudando de curso, virando-se, vindo até ela novamente - como se ela
fosse um ímã, puxando-a para nós.
“Droga,” sibilei.
Eu já havia feito muito. Enquanto eu voava pelo ar para tirá-la do caminho, eu estava
consciente do erro que estava cometendo. Saber que era um erro não me impediu, mas eu
não estava alheio ao risco que estava assumindo - assumindo, não apenas para mim, mas
para toda minha família.
Revelação.
E isso certamente não ajudaria, mas não havia a menor chance de eu deixar a van obter
sucesso em sua segunda tentativa de tirar a vida da garota.
A deixei no chão e ergui minhas mãos, segurando a van antes que ela pudesse tocar a
garota. A força do movimento me lançou de encontro ao carro parado ao lado da picape, e
eu podia sentir sua forma afundar por meus ombros. A van tremeu contra o obstáculo que
eram meus braços, e então girou, balançando instável nos dois pneus mais afastados.
Se eu movesse minhas mãos, o pneu traseiro da van ia cair nas pernas dela.
Ah, pelo amor de tudo que é sagrado, as catástrofes nunca teriam fim? Havia mais alguma
coisa pra dar errado? Eu não podia ficar ali, segurando a van no ar, e esperando por
resgate. Mas não podia jogar a van longe - havia o motorista a considerar, seus
pensamentos incoerentes pelo pânico.
Com um rugido interno, empurrei a van para que ela se afastasse de nós por um instante.
Enquanto ela balançava novamente em minha direção, a segurei por debaixo de sua forma
com minha mão direita enquanto enrolava meu braço esquerdo em volta da cintura da
garota novamente e a arrastava de debaixo da van, puxando-a apertada a meu lado. Seu
corpo se moveu mole enquanto eu a virava para que suas pernas estivessem livres -
estaria ela consciente? Quanto dano eu a teria infligido em minha desastrosa tentativa de
resgate?
Deixei a van cair, agora que não podia mais machucá-la. Ela bateu no pavimento, as
janelas tremendo em uníssono.
Eu sabia que estava no meio de uma crise. O quanto ela teria visto? Mais alguém teria me
visto materializar ao lado dela e então segurado a van enquanto tentava tirar a garota de
debaixo dela? Essas questões deveriam ser minha maior preocupação.
Mas eu estava ansioso demais para realmente me importar com a ameaça de exposição o
tanto que eu deveria. Muito tomado pelo pânico de que eu poderia tê-la machucado em
meu esforço de protegê-la. Muito assustado de tê-la tão próxima a mim, sabendo que
assim eu sentiria seu cheiro se eu me permitisse respirar. Muito consciente do calor de seu
corpo macio, pressionado ao meu - mesmo pelo obstáculo duplo de nossas jaquetas, eu
podia sentir o calor…
O primeiro medo foi o maior. Quando os gritos das testemunhas se ergueu a nossa volta,
me inclinei para examinar seu rosto, para ver se ela estava consciente - esperando
ansiosamente para que ela não estivesse sangrando.
Seus olhos estavam abertos, encarando em choque.
“Bella?” Perguntei urgentemente. “Você esta bem?”
“Estou bem.” Ela disse, suas palavras soaram automáticas com tom atordoado.
Alívio. Era tão esquisito quanto doloroso, o banho que veio a mim com o som da sua voz.
Eu inspirei um pouco entre meus dentes, e não me importei com a queimação que estava
na minha garganta. Eu quase dei as boas-vindas.
Ela se esforçou para sentar-se, mas eu não estava pronto para soltá-la. Se eu soltasse…
seria mais seguro? Melhor, no mínimo, tê-la enroscada em mim.
“Cuidado,” Eu a avisei. “Acho que você bateu sua cabeça com força.”
Não estava cheirando a sangue novo - uma piedade - mas isso não quer dizer nada sobre
o dano interno. Eu estava inesperadamente ansioso para levá-la ao Carlisle e ao seu
completo equipamento de radiologia.
“Ai,” ela disse, seu tom comicamente chocado quando ela percebeu que eu estava certo
sobre sua cabeça.
“Foi isso que pensei”. Aliviadamente foi engraçado para mim, me fez ficar mais tonto.
“Como foi que…” Sua voz falhou, e seus olhos tremeram. “Como foi que chegou aqui tão
rápido?”
O alivio voltou azedo, o humor desapareceu. Ela percebeu demais.
Agora pareceu que a garota estava em postura séria, a ansiedade pela minha família
estava séria.
“Eu estava bem ao seu lado, Bella.” Eu sabia por experiência que se eu tivesse muita autoconfiança
poderia mentir, de uma maneira que qualquer questionamento poderia parecer
verdade.
Ela esforçou-se para se mover de novo, e nessa hora eu me permiti. Eu precisava respirar
tanto que eu poderia fazer meu papel corretamente, eu precisava de espaço do seu corpo
caloroso, delicioso e quente tanto que não poderia combinar com sua mensagem de
desespero para mim. Eu deslizei para longe dela, o mais longe o possível no pequeno
espaço entre os destroços do veículo.
Ela me olhou e eu a olhei também. Para olhar para longe, seria um primeiro erro que
apenas um mentiroso incompetente poderia fazer, e eu não era um mentiroso
incompetente. Minha expressão estava suave, benigna… Seu rosto pareceu confuso. Isso
era bom.
A cena do acidente estava cercada agora. Tantos estudandes, crianças, colegas se
empurrando feito manivelas para ver qualquer corpo que fosse visivel. Ali as falas eram
inteligíveis com os altos gritos dos pensamentos chocados. Eu escaniei os pensamentos
uma vez para ter certeza que não havia ninguém desconfiado ainda, e então pude desligar
e me concentrar apenas na garota.
Ela estava distraída por causa da confusão. Ela deu uma olhada por perto, sua expressão
continuou chocada e cansada para se manter em pé.
Eu coloquei minha mão levemente para empura-la.
“Fique quieta por enquanto.” Ela parecia bem, mas ela poderia mesmo mover seu pescoço?
De novo, eu ansiei por Carlisle. Meus olhos como estudante teórico de medicina não se
igualavam com seus séculos de medicina prática.
“Mas está frio,” Ela reclamou.
Ela quase tinha sido esmagada até a morte duas vezes de formas distintas e se ferido uma
vez mais, e era esse frio que a estava incomodando. Um pedaço da memória deslizou em
meus dentes, depois eu pude lembrar que a situação não foi engraçada.
Bella piscou, e seus olhos focaram no meu rosto. “Você estava lá.”
Aquilo soou sério para mim de novo.
Ela deu uma olhada para trás, viu que não tinha nada para ver além da Van amassada.
“Você estava perto do seu carro.”
- Não estava não.
- Vi você. - ela insistiu; a voz dela era infantil quando era teimosa. Seu queixo sobressaiu.
- Bella, eu estava parado do seu lado e tirei você do caminho.
Eu encarei fundo em seus olhos intensos, tentando convencê-la a aceitar minha versão - a
única racional disponível.
O queixo dela se endureceu. - Não.
Eu tentei ficar calmo, não entrar em pânico. Se eu pudesse a manter calada por alguns
momentos, me dar uma chance de destruir a evidência… e negar a história dela alegando
uma lesão na cabeça.
Não deveria ser fácil manter essa garota silenciosa e reservada calada? Se ela confiasse em
mim, só por alguns instantes…
-Por favor, Bella. - eu disse, e minha voz estava muito intensa, porque de repente eu
queria que ela confiasse em mim. Queria muito, e não só por causa do acidente. Que
vontade estúpida. Que sentido faria ela confiar em mim?
- Por quê? - ela perguntou, ainda na defensiva.
- Confie em mim. - eu pedi.
- Promete que vai me explicar tudo depois?
Deixou-me nervoso ter que mentir para ela de novo, quando eu queria tanto que eu
merecesse a confiança dela. Então, quando eu a respondi, retruquei.
- Tudo bem.
- Tudo bem. - ela revidou no mesmo tom.
Enquanto a tentativa de resgate começava ao nosso redor - adultos chegando, autoridades
foram chamadas, sirenes à distância - eu tentei ignorar a garota e colocar minhas
prioridades em ordem. Busquei em cada mente no estacionamento, das testemunhas e das
que chegaram depois, mas não consegui achar nada de perigoso. Muitos estavam
surpresos de me ver ao lado de Bella, mas todos concluíram - porque não havia mais
nenhuma conclusão a se tirar - que eles não tinham me notado parado ao lado da menina
antes do acidente.
Ela era a única que não aceitava a explicação mais fácil, mas também seria considerada a
fonte menos confiável. Ela estava aterrorizada, traumatizada, para não falar a pancada na
cabeça. Possivelmente em choque. Seria aceitável para a história dela estar confusa, certo?
Ninguém a daria atenção com tantos outros expectadores.
Eu recuei quando ouvi os pensamentos de Rosalie, Jasper e Emmett, que chegavam agora
na cena. Seria o inferno pagar por isto à noite…
Eu queria resolver o problema da fissura que meus ombros tinham deixado no carro
caramelo, mas a garota estava perto demais. Teria que esperar até que ela estivesse
distraída.
Era frustrante esperar - tantos olhos humanos em mim - enquanto os humanos lutavam
com a van, tentando tirá-la de nós. Eu podia ter ajudado, apressado o processo, mas já
estava com problemas suficientes e a menina tinha olhos atentos. Finalmente, eles
conseguiram afastá-la longe o suficiente para que os paramédicos entrassem com as
macas.
Um rosto grisalho e familiar apareceu.
- Oi, Edward. - Brett Warner disse. Ele também era um enfermeiro registrado, e eu o
conhecia bastante bem do hospital. Foi um golpe de sorte - a única sorte de hoje - foi ele
quem chegou até nós primeiro. Em seus pensamentos, ele estava notando que eu parecia
alerta e calmo. - Você está bem, garoto?
- Perfeito, Brett. Nada me acertou. Mas receio que a Bella aqui talvez tenha uma
concussão. Ela bateu a cabeça forte quando a tirei da frente…
Brett se virou para a menina, que me lançou um olhar traído. Ah, estava certo. Ela era o
tipo de mártir calado - preferia sofrer em silêncio.
Ela não contradisse minha história imediatamente e isso me deixou melhor.
O próximo paramédico insistiu que eu me deixasse ser tratado, mas não foi tão difícil
desencorajá-lo. Eu prometi que deixaria meu pai me examinar, e ele desistiu. Com a
maioria dos humanos, só falar com confiança era necessário. Com a maioria dos humanos,
menos a menina, é claro. Ela se encaixava em algum padrão?
Quando eles colocaram o protetor de pescoço nela - e seu rosto ficou escarlate de
vergonha - usei a distração para arrumar silenciosamente o formato do amassado no carro
caramelo com meu pé. Só meus irmãos notaram o que eu estava fazendo e escutei a
promessa mental de Emmett de arrumar o que eu deixasse para trás.
Agradecido pela ajuda dele - e mais agradecido que Emmett, pelo menos, já tinha
perdoado minha escolha perigosa - fiquei mais relaxado quando subi no banco da frente da
ambulância ao lado de Brett.
O chefe de polícia chegou antes que eles colocassem Bella no fundo da ambulância.
Embora os pensamentos do pai de Bella estivessem além das palavras, o pânico e a
preocupação emanando da mente do homem como qualquer outro nos arredores.
Ansiedade e culpa sem palavras, muito dos dois sentimentos, o lavou quando ele viu sua
única filha na maca.
Lavaram dele e passaram para mim, ecoando e ficando mais forte. Quando Alice tinha me
avisado que matar a filha de Charlie Sawn o mataria também, ela não estava exagerando.
Minha cabeça se curvou de culpa enquanto escutava sua voz em pânico.
- Bella! - ele gritou.
- Eu estou bem Char… pai. - ela suspirou. - Não há nada de errado comigo.
A garantia dela mal acalmou o terror dele. Ele se virou para o paramédico mais perto e
pediu mais informação.
Não foi até eu o ouvir falando, formando frases perfeitamente coerentes tirando seu pânico
que eu percebi que a ansiedade e preocupação dele não eram além das palavras. Eu só…
não podia ouvir as palavras exatas.
Hmm. Charlie Swan não era tão silencioso como a filha, mas eu podia ver de onde ela
tinha herdado. Interessante.
Nunca tinha passado muito tempo envolta do chefe de polícia da cidade. Sempre o
considerei um homem de raciocínio lento - agora eu entendi que eu é que era lento. Os
pensamentos dele eram parcialmente ocultos, não ausentes. Eu só podia escutar o caráter
deles, o tom…
Queria escutar com mais atenção, ver se eu podia achar nessa nova pequena peça a chave
para os segredos da garota. Mas Bella foi trancada na parte trazeira então, e a ambulância
estava seguindo seu caminho.
Era difícil me desviar dessa possível solução para o mistério que tinha me deixado
obcecado. Mas eu tinha que pensar agora - olhar o que havia sido feito hoje de cada
ângulo. Eu tinha que escutar, ter certeza de que não tinha colocado todos nós em tanto
perigo que teríamos que partir imediatamente. Tinha que me concentrar.
Não havia nada nos pensamentos dos paramédicos para me preocupar. Até onde eles
sabiam, não tinha nada de errado com a garota. E Bella estava mantendo a história que eu
tinha contado, até agora.
A prioridade, quando chegamos ao hospital, era ver Carlisle. Eu corri pelas portas
automáticas, mas fui incapaz de abrir mão de assistir totalmente a Bella; continuei
prestando atenção nela através dos pensamentos dos paramédicos.
Foi fácil achar a mente familiar de meu pai. Ele estava um seu escritório pequeno, sozinho
- o segundo golpe de sorte desse dia azarado.
- Carlisle.
Ele escutou minha aproximação, e ficou alarmado assim que viu meu rosto. Ele ficou em
pé, pálido como um fantasma. Ele se inclinou para frente da mesa de nogueira organizada.
Edward, você não…
- Não, não, não é isso.
Ele respirou fundo. Claro que não. Desculpe que pensei isso. Seus olhos, claro, eu devia
reconhecido… Ele notou meus olhos ainda eram dourados com alívio.
- Mas ela está machucada, Carlisle, provavelmente não é grave, mas…
- O que aconteceu?
- Um acidente de carro estúpido. Ela estava no lugar errado, na hora errada. Mas eu não
podia fica parado lá - deixar que fosse atropelada…
Comece de novo, eu não entendo. Como você se envolveu?
- Uma van derrapou no gelo. - eu sussurrei. Olhei a parede atrás dele enquanto falava. Ao
invés de ser coberta com diplomas, ele tinha só uma pintura à óleo, uma de suas favoritas,
um Hassam não descoberto. - Ela estava no caminho. Alice viu acontecendo, mas não
havia tempo para fazer nada além de correr pelo estacionamento e tirá-la da frente.
Ninguém notou… exceto ela. Eu tive que parar a van também, mas de novo, ninguém viu…
a não ser ela. Eu… eu sinto muito, Carlsile. Não queria nos colocar em perigo.
Ele deu a volta na mesa e colocou a mão no meu ombro.
Você fez a coisa certa. E não deve ter sido fácil para você. Estou orgulhoso, Edward.
Eu o olhei nos olhos. - Ela sabe que tem algo… de errado comigo.
- Isso não importa. Se tivermos que ir embora, nós iremos. O que ela disse?
Balancei a cabeça, um pouco frustrado. - Nada, ainda.
Ainda?
- Ela concordou com a minha versão dos eventos… mas está esperando uma explicação.
Ele franziu a testa, pensando.
- Ela bateu a cabeça - bom, eu fiz isso. - continuei rapidamente. - Eu a bati contra o chão
com bastante força. Ela parece bem, mas… não acho que será difícil desacreditá-la.
Senti-me rude só de dizer as palavras.
Carlisle ouviu o desgosto na minha voz. Talvez isso não seja necessário. Vamos ver o que
acontece, está bem? Parece que tenho uma paciente para ver.
- Por favor. - eu disse. - Estou preocupado que a tenha machucado.
A expressão de Carslile se aliviou. Ele passou o dedo pelo cabelo, só alguns tons mais claro
que seus olhos dourados, e riu.
Foi um dia interessante para você, não foi? Em sua mente, eu podia ver a ironia, e era
engraçada - para ele, pelo menos. Uma inversão de papéis. Durante aquele momento curto
e impensado em que corri pelo estacionamento congelado, eu tinha passado de assassino
para protetor.
Eu ri com ele, lembrando de ter certeza de que Bella nunca precisaria de proteção de nada
além de mim mesmo. Minha risada tinha um tom irritado porque, apesar da van, isso ainda
era verdade.
Eu esperei no escritório de Carlsile - uma das horas mais compridas que já vivi - escutando
o hospital cheio de pensamentos.
Tyler Crowley, o motorista da van, parecia estar mais machucado que Bella, e a atenção se
voltou para ele enquanto ela esperava a sua vez de fazer o raio-X. Carlisle ficou nos
fundos, confiando no diagnóstico dos residentes de que a garota só estava levemente
machucada. Isso me deixou ansioso, mas sabia que ele tinha razão. Uma espiada no rosto
dele e ela imediatamente se lembraria de mim, do fato que havia algo de errado com a
minha família, e talvez isso a fizesse falar algo.
Ela certamente tinha um parceiro disposto o suficiente para conversar. Tyler estava
consumido por culpa com o fato de quase tê-la matado, e não conseguia parar de falar
sobre isso. Eu podia ver a expressão dela através dos olhos dele, e estava claro que ela
queria que ele parasse. Como ele não via isso?
Houve um momento tenso para mim quando Tyler perguntou como ela tinha saído da
frente.
Eu esperei, sem respirar, como ela hesitou.
- Hmmm… - ele a escutou falar. Então ela fez uma pausa tão longa que Tyler se perguntou
se sua pergunta a tinha confundido. Finalmente, ela continuou. - Edward me puxou de lá.
Eu suspirei. Então minha respiração acelerou. Eu nunca a tinha ouvido falar meu nome
antes. Gostei do som - mesmo só de escutar pelos pensamentos de Tyler. Queria escutar
com meus próprios ouvidos…
- Edward Cullen. - ela disse, quando Tyler não entendeu de quem ela tinha falado.
Encontrei-me na porta, a mão na maçaneta. O desejo de vê-la estava ficando mais forte.
Eu tive que me lembrar de ter cuidado.
- Ele estava do meu lado.
- Cullen? - Hm. Que estranho. - Não o vi… - Podia ter jurado… - Caramba, acho que foi
tudo tão rápido. Ele está bem?
- Acho que sim. Está em algum lugar por aqui, mas ninguém o obrigou a usar uma maca.
Eu vi o olhar pensativo no rosto dela, a suspeita ficando mais forte em seus olhos, mas
essas pequenas mudanças de expressão foram perdidas em Tyler.
Ela é bonita, ele estava pensando, quase surpreso. Mesmo toda desarrumada. Não faz meu
tipo, mas… devia convidá-la para sair. Compensar por hoje…
Então fui para o corredor, a meio caminho da sala de emergência, sem pensar por um
segundo no que estava fazendo.
Por sorte, a enfermeira entrou na sala antes de mim - era a vez de Bella tirar o raio-X.
Encostei-me à parede em um canto escuro e tentei me controlar enquanto ela era levada
para longe.
Não importava que Tyler pensou que ela era bonita. Qualquer um notaria isso. Não havia
razão para eu me sentir… Como eu me sentia? Aborrecido? Ou enfurecido estava mais
perto a verdade? Isso não fazia nenhum sentido.
Eu fiquei onde eu estava o quanto eu pude, mas a impaciência me venceu e eu voltei pra
sala de radiologia. Ela já tinha sido levada de volta ao pronto socorro, mas eu podia dar
uma olhada em seus Raios-x enquanto a enfermeira não voltava.
Eu me senti mais calmo quando vi. Sua cabeça estava bem. Eu não a tinha machucado,
não exatamente.
Carlisle me apanhou lá.
Você parece melhor, ele comentou.
Eu apenas olhei pra frente. Nós não estávamos sozinhos, os corredores cheios de
ordenados e visitantes.
Ah, sim. Ele encravou seus raios-x a tábua iluminada, mas eu não precisava de uma
segunda olhada. Eu vejo. Ela está absolutamente bem. Muito bem, Edward.
O som da aprovação de meu pai criou uma reação mista em mim. Eu estaria contente,
exceto por saber que ele não aprovaria o que eu ia fazer agora. Ao menos, ele não
aprovaria se soubesse de minhas reais motivações…
“Eu acho que vou conversar com ela - depois que ela ver você,” eu suspirei. “Aja
naturalmente, como se nada tivesse acontecido. Esqueça isso.” Todas razões aceitáveis.
Carlisle acenou ausente, ainda olhando pros seus raios-x. “Boa idéia. Hmm.”
Eu olhei pra ver o que o tinha interessado.
Olhe todas as contusões cicatrizadas! Quantas vezes a mãe dela a derrubou?
Carlisle sorriu pra si mesmo por sua brincadeira.
“Eu estou começando a pensar que essa garota tem apenas má sorte. Sempre no lugar
errado na hora errada.”
Forks é certamente o lugar errado pra ela, com você aqui.
Eu me retirei.
Vá em frente. Esqueça essas coisas. Eu estarei com você logo.
Eu saí rapidamente, me sentindo culpado. Talvez eu fosse um mentiroso muito bom, se eu
pudesse enganar Carlisle.
Quando eu cheguei ao pronto socorro, Tyler estava resmungando sob sua respiração,
ainda se desculpando. A garota estava tentando escapar do remorso dele tentando dormir.
Os olhos dela estavam fechados, mas sua respiração não estava contínua, e uma vez ou
outra seus dedos se torciam impacientemente.
Eu encarei seu rosto por um longo tempo. Essa era a última vez que eu a veria. Isso
disparou uma dor aguda em meu peito. Seria porque eu odiava deixar qualquer quebracabeça
sem solução? Isso não parecia uma explicação suficiente.
Finalmente, eu respirei fundo e fiquei a vista.
Quando Tyler me viu, ele começou a falar, mas eu coloquei um dedo em meus lábios.
“Ela está dormindo?” Eu murmurei.
Os olhos de Bella se abriram rapidamente e focou em meu rosto. Eles se arregalaram por
um momento, e depois se estreitaram por raiva ou suspeita. Eu lembrei que eu tinha uma
encenação pela frente, então eu sorri pra ela como se nada incomum houvesse acontecido
esta manhã - apenas uma pancada na cabeça e um pouco de imaginação livre.
“Hey, Edward,” Tyler disse. “Eu lamento muito -”
Eu levantei uma mão pra parar suas desculpas. “Sem sangue, sem danos,” eu disse
humoradamente. Sem pensar, eu sorri muito largamente por minha brincadeira particular.
Era assustadoramente fácil ignorar Tyler, deitado não mais que 1.20m de mim, coberto de
sangue fresco. Eu nunca tinha entendido como Carlisle era capaz de fazer aquilo - ignorar
o sangue de seus pacientes pra cuidar deles. Não seria a constante tentação muito
distraída, muito perigosa…? Mas, agora… Eu podia ver como, se você estivesse focado o
suficiente em algo mais forte o suficiente, a tentação não seria nada demais.
Apesar de fresco e exposto, o sangue de Tyler não tinha nada a ver com o de Bella.
Eu mantive minha distância dela, me sentando nos pés do colchão de Tyler.
“Então, qual o veredicto?” eu perguntei a ela.
Ela fez bico. “Não há nada de errado comigo, mas eles não vão me deixar ir. Como você
não está acorrentado a uma maca como o resto de nós?”
Sua impaciência me fez sorrir novamente.
Eu podia ouvir Carlisle no corredor agora.
“Tudo depende dos seus contatos,” eu disse suavemente. “Mas não se preocupe, eu vim
libertar você.”
Eu assisti sua reação cuidadosamente enquanto meu pai entrava na sala. Os olhos dela se
arregalaram e sua boca realmente abriu em surpresa. Eu gemi internamente. Sim, ela
certamente tinha notado a semelhança.
“Então, Srta. Swan, como você está se sentindo?” Carlisle perguntou. Ele tinha uma
maneira maravilhosamente calma que deixava a maioria dos pacientes bem em poucos
momentos. Eu não poderia falar como isso afetou Bella.
“Eu estou bem,” ela disse quietamente.
Carlisle fixou seus raios-x no painel de luz acima da cama. “Seu raio-X parece bom. Sua
cabeça está doendo? Edward disse que você bateu com força.”
Ela suspirou, e disse, “Eu estou bem,” novamente, mas dessa vez a impaciência vazou em
sua voz. Depois ela olhou de relance em minha direção.
Carlisle se aproximou dela e correu seus dedos levemente por seu crânio até que ele
encontrou o galo embaixo de sua cabeça.
Eu fui pego de surpresa pela onda de emoção que passou por mim.
Eu tinha visto Carlisle trabalhar com humanos mil vezes. Anos atrás, eu tinha até o ajudado
informalmente - embora apenas em situações em que sangue não estava envolvido. Então
não era uma coisa nova pra mim, assisti-lo interagir com a garota como se ele fosse tão
humano quanto ela. Eu tinha invejado seu controle muitas vezes, mas não era o mesmo
que essa emoção. Eu invejei mais que seu controle. Eu sofri pela diferença entre Carlisle e
eu - que ele pudesse tocá-la tão gentilmente, sem receio, sabendo que nunca a
machucaria…
Ela estremeceu, e eu pulei do meu assento. Eu tive que me concentrar por um momento
para manter minha postura relaxada.
“Sensível ?” Carlisle perguntou.
Seu queixo se levantou um pouco. “Na verdade não,” ela disse.
Outro pequeno pedaço de sua personagem se encaixou: ela estava brava. Ela não gostava
de mostrar fraqueza.
Possivelmente a criatura mais vulnerável que eu já vi, e ela não quer parecer fraca. Uma
gargalhada escorregou através de meus lábios.
Ela me olhou novamente.
“Bem,” Carlisle disse. “Seu pai está na sala de espera - você pode ir pra casa com ele
agora. Mas volte se tiver vertigens ou qualquer problema com a sua visão.”
O pai dela estava aqui? Eu varri os pensamentos da sala de espera lotada, mas não
conseguia distinguir sua voz mental do grupo antes que ela estivesse falando de novo, o
rosto ansioso.
- Posso voltar pra a escola?
- Talvez devesse descansar hoje. - Carlisle sugeriu.
Os olhos dela se voltaram para mim. - Ele vai para a escola?
Agir normalmente… acalmar as coisas… esquecer a sensação quando ela me olha nos
olhos…
-Alguém tem que espalhar a boa notícia de que sobrevivemos. - eu disse.
- Na verdade - Carlisle corrigiu - a maior parte da escola parece estar na sala de espera.
Eu pressenti a reação dela dessa vez - sua aversão à atenção. Ela não me desapontou.
- Ah, não - ela lamentou e colocou as mãos no rosto.
Eu gostei que finalmente adivinhei uma coisa certa. Estava começando a entendê-la…
- Quer ficar aqui? - Carlisle perguntou.
- Não, não! - ela disse rapidamente, girando as pernas sob o colchão e escorregando para
ficar em pé. Ela tropeçou, sem equilíbrio, nos braços de Carlisle. Ele a pegou e a firmou.
Novamente, a inveja me inundou.
- Estou bem. - ela disse antes que ele pudesse comentar, um rosa claro em suas
bochechas.
Claro, aquilo não incomodaria Carlisle. Ele teve certeza que ela tinha recuperado o
equilíbrio e soltou as mãos.
- Tome um Tylenol para a dor. - ele instruiu.
- Não está doendo tanto assim.
Carlisle sorriu e assinou o prontuário dela. - Parece que vocês dois tiveram muita sorte.
Ela virou levemente o rosto, para me encarar com olhos rígidos. - A sorte foi Edward por
acaso estar parado ao meu lado.
- Ah, bem, sim. - Carlisle concordou depressa, escutando a mesma coisa na voz dela que
eu escutei. Ela não tinha pensado que suas suspeitas eram coisas da sua imaginação.
Ainda não.
Toda sua, Carlisle pensou. Cuide do jeito que achar melhor.
- Muito obrigado. - eu sussurrei, rápido e baixo. Nenhum humano me ouviu. Os lábios de
Carlisle se viraram um pouco para cima com o meu sarcasmo enquanto ele se virava para
Tyler. - Mas acho que você terá que ficar conosco por mais um tempinho. - ele disse
quando começou a examinar os cortes deixados pelo vidro quebrado.
Bom, eu tinha feito o estrago, então era justo que eu tivesse que lidar com ele.
Bella andou deliberadamente na minha direção, sem parar até que estivesse a uma
distância desconfortável. Lembrei como eu tinha desejado, antes de todo o estrago, que
ela se aproximasse de mim… Isso já era zombar desse desejo.
- Posso conversar com você um minuto? - ela sibilou para mim.
A sua respiração quente tocou meu rosto e eu tive que dar um passo para trás. A atração
dela não tinha diminuído nem um pouquinho. Toda vez que ela estava perto de mim,
despertava os meus piores instintos, os mais urgentes. Veneno inundou minha boca e meu
corpo ansiou para atacar - para puxá-la para os meus braços e despedaçar sua garganta
nos meus dentes.
Minha mente era mais forte que meu corpo, mas era por pouco.
- Seu pai está esperando por você. - eu a lembrei, com o queixo apertado.
Ela olhou para Carlisle e Tyler. Tyler não estava prestando nem um pouco de atenção, mas
Carlisle estava monitorando cada respiração que eu dava.
Cuidado, Edward.
- Gostaria de falar com você a sós, se não se importa. - ela insistiu em uma voz baixa.
Eu gostaria de dizer que me importava muito, mas sabia que teria que passar por isso uma
hora. Melhor acabar com isso de uma vez.
Estava cheio de tantas emoções em conflito quando eu saía do quarto, escutando-a
tropeçar nos próprios pés atrás de mim, tentando me acompanhar.
Tinha que atuar. Sabia que papel eu faria - eu já tinha escolhido o personagem. Seria o
vilão. Mentiria, ridicularizaria e seria cruel.
Isso era contra todos os meus melhores impulsos - os impulsos humanos aos quais tinha
me agarrado todos esses anos. Nunca quis merecer mais confiança do que nesse
momento, quando tinha que destruir qualquer possibilidade que ela existisse.
Foi pior saber que essa seria a última memória que ela teria de mim. Essa era a cena de
despedida.
Virei-me para ela.
- O que você quer? - perguntei friamente.
Ela se contraiu um pouco com a minha hostilidade. Seus olhos ficaram confusos, na
expressão que tinha me assombrado…
- Você me deve uma explicação. - ela disse em uma voz fraca; o rosto de marfim
empalideceu.
Foi muito difícil manter minha voz dura. - Eu salvei a sua vida… Não lhe devo nada.
Ela recuou - queimou como ácido ver que minhas palavras a machucavam.
- Você prometeu. - ela sussurrou.
- Bella, você bateu a cabeça, não sabe do que está falando.
Então ela se empertigou. - Não há nada de errado com a minha cabeça.
Ela estava irritada agora, e isso deixou as coisas mais fáceis para mim. Eu sustentei seu
olhar, deixando meu rosto menos amigável.
- O que você quer de mim, Bella?
- Quero saber a verdade. Quero saber por que estou mentindo por você.
O que ela queria era justo - me frustrou ter que negar isto para ela.
- O que você acha que aconteceu? - eu quase rosnei para ela.
Suas próximas palavras vieram em uma corrente. - Só o que eu sei é que você não estava
em nenhum lugar perto de mim… O Tyler também não o viu, então não venha me dizer
que bati a cabeça com força… Aquela van ia atropelar nós dois… E não aconteceu, e suas
mãos pareceram amassar a lateral dela… E você deixou um amassado no outro carro e não
está nada machucado… E a van devia ter esmagado minhas pernas, mas você a levantou…
- De repente, ela trincou os dentes e seus olhos estavam brilhando com lágrimas não
derramadas.
Eu a encarei, minha expressão de escárnio, embora o que sentisse mesmo era medo; ela
realmente tinha visto tudo.
- Acha que eu levantei a van? - eu perguntei sarcasticamente.
Ela respondeu com um aceno rápido.
Minha voz ficou ainda mais irônica. - Sabe que ninguém vai acreditar nisso.
Ela lutou para controlar a raiva. Quando me respondeu, ela falou cada palavra devagar. -
Não vou contar a ninguém.
Ela estava dizendo a verdade - Eu podia ver isso nos olhos dela. Mesmo furiosos e traídos,
ela iria guardar meu segredo.
Por quê?
O choque disso arruinou a minha expressão cuidadosamente projetada durante meio
segundo, e logo me recompus.
“E por que isso importa?” Eu perguntei, trabalhando para manter minha voz severa.
“Importa pra mim,” ela disse intensa. “Eu não gosto de mentir - então é melhor que tenha
um bom motivo para fazer isso.”
Ela me pediu para confiar nela. Exatamente como eu queria que ela confiasse em mim.
Mas esse lado da linha eu não podia atravessar.
A minha voz ficou calosa. “Você não pode só me agradecer e esquecer isso?”
“Obrigada,” ela disse, e logo ela fumigou silenciosamente, esperando.
“Você não vai esquecer isso, vai?”
“Não.”
“Nesse caso…” Eu não podia dizer ela a verdade se eu quisesse… E eu não podia querer.
Eu deixaria ela fazer sua própria história sobre quem eu era, por que nada podia ser pior
que a verdade - Eu estava vivendo um pesadelo, diretamente das páginas de uma história
de terror.
“Espero que você goste da decepção.”
Fizemos carranca um para o outro.
Foi ímpar quão amável sua raiva foi. Como um furioso gatinho, macio e inofensivo, e
também ignorante quanto a sua própria invulnerabilidade.
Ela ficou rosada e apertou seus dentes de novo. “Por que você se deu o trabalho então?”
Sua pergunta não era a que eu estava esperando ou preparado para responder.
Eu perdi as regras do jogo, as quais eu estava firmado. Eu senti a máscara escorregar da
minha face, e eu disse a ela - nesse único momento - a verdade.
“Eu não sei.”
Eu memorizei seu rosto uma última vez - ainda tinha alguns traços de raiva, o sangue
ainda não tinha parado de deixar suas bochechas rosadas - e então eu me virei e andei
para longe dela.

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