sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Capitulo 11

11. Interrogações

A CNN trouxe a história antes.
Eu estava contente por isto ter chegado ao noticiário antes de eu ter que ir para a escola,
ansioso por ouvir como os humanos iriam descrever o acontecimento, e quanta atenção o
fato iria gerar.
Por sorte, era um dia cheio de noticias frescas. Houve um terremoto na américa do sul e
um sequestro político no oriente médio. Portanto, tudo acabou em uns poucos segundos,
umas poucas frases e uma imagem chuviscada.
“Alonzo Calderas Wallace, suspeito de ser um estuprador em série e assassino procurado
nos estados do Texas e Oklahoma, foi preso na última noite em Portland, Oregon graças a
uma denúncia anônima. Wallace foi encontrado inconsciente em um beco nesta manhã,
apenas a alguns metros da delegacia de polícia.
Os policiais não souberam dizer por enquanto se ele seria extraditado para Houston ou
Oklahoma para aguardar o julgamento.”
A imagem não estava clara. Uma foto de arquivo policial, e ele tinha uma barba bem
grossa na época em que a fotografia foi tirada. Mesmo que Bella tivesse visto, ela não o
teria reconhecido. Eu esperava que não. Isto a deixaria amedrontada sem necessidade.
“A cobertura aqui na cidade será bem pequena. É algo de muito longe para ser
considerado de interesse local,” disse-me Alice. “Foi uma boa idéia que Carslile o levasse
para fora do estado.”
Eu acenei positivamente com a cabeça. Bella não assistia muita TV normalmente, e eu
nunca havia visto seu pai assistir nada além de canais de esportes.
Eu tinha feito o que podia. Este monstro já não caçaria mais, e eu não era um assassino.
Não nos últimos tempos, de qualquer forma. Eu fiz bem em confiar em Carslile, por mais
que eu ainda desejasse que o monstro não tivesse se safado tão incolume. Eu me peguei
desejando que ele fosse extraditado para o Texas, onde a pena de morte é tão popular…
Não. Isso não importa. Deixaria isto no passado, e me concentraria no que é mais
importante.
Havia deixado o quarto de Bella a menos de uma hora atrás e já estava louco para vê-la
novamente.
“Alice, você se importa-”
Ela me cortou. “Rosalie vai dirigir. Ela vai parecer irritada, mas você sabe que ela vai
adorar a desculpa para exibir seu carro.” Alice soltou um riso trêmulo.
Eu sorri para ela. “Te vejo na escola.”
Alice suspirou, e meu sorriso se tornou uma careta.
Eu sei, eu sei, ela pensou. Não ainda. Eu vou esperar até que você esteja pronto para Bella
saber quem sou. Você deve saber, enfim, que isso não é apenas egoísmo meu. Bella vai
gostar de mim também.
Eu não a respondi, enquanto seguia com pressa para a porta. Aquela era uma maneira
diferente de ver a situação. Bella iria querer conhecer Alice? Ter uma vampira como
amiga?
Conhecendo Bella… aquela idéia provavelmente não iria incomodá-la nem um pouco.
Eu franzi as sobrancelhas, pensando. O que Bella quer e o que é melhor para Bella, são
duas coisas muito distintas.
Eu comecei a me sentir desconfortável enquanto estacionava meu carro no passeio da casa
de Bella.
O provérbio humano dizia que tudo parece diferente pela manhã - que as coisas mudam
quando você as deixa passar. Eu pareceria diferente para Bella na luz fraca de um dia
nublado? Mais ou menos sinistro do que pareceria no escuro da noite? Teria a verdade se
revelado enquanto ela dormia? Será que finalmente ela teria medo?
Seus sonhos haviam sido pacíficos, enfim, na última noite. Quando ela falou meu nome,
uma vez e outra, ela sorriu. Mais de uma vez ela murmurou apelando para que eu ficasse.
Aquilo não significaria nada no dia de hoje?
Eu aguardei impacientemente, ouvindo os sons vindos de dentro da casa - os passos
rápidos e tropeçantes nas escadas, o rasgar seco de papel alumínio, os frascos do
refrigerador batendo uns contra os outros quando a porta se fechou. Parecia que ela
estava com pressa. Anciosa para ir a escola? A idéia me fez sorrir, esperançoso novamente.
Olhei para o relógio. Eu supunha que - levando em conta a velocidade a sua velha pickup a
limitava, ela estava um tanto atrasada.
Bella saiu correndo da casa, sua mochila escorregando dos seus ombros, seu cabelo preso
em uma trança mal feita que já se dividia perto de sua nuca. O grosso suéter verde que ela
usava não era o suficiente para evitar que seus pequenos ombros tremessem com a névoa
fria.
O longo suéter era grande demais para ela, desproporcional. Ele mascarava sua silhueta
delgada, tornando todas as suas curvas delicadas e suaves em uma confusão disforme. Eu
gostei, mesmo desejando que ela usasse algo mais parecido com a delicada blusa azul que
vestira na última noite… o tecido havia aderido a sua pele de um jeito muito convidativo,
decotado o suficiente para revelar a maneira hipnótica como sua clavícola se afastava do
vazio abaixo de seu pescoço. O azul fluia como agua através do contorno delicado de seu
corpo.
Era melhor - essencial - que eu mantivesse meus pensamentos muito, muito longe
daquelas formas, então eu deveria estar agradecido por ela usar aquele suéter pouco
atraente. Eu não poderia me permitir qualquer erro, e seria um erro monumental me
deixar levar pela estranha fome que os pensamentos sobre seus lábios… sua pele…
estavam criavam dentro de mim. Fome que eu havia erradicado de mim por uma centena
de anos. Eu não poderia sequer pensar em tocá-la, porque isso seria impossível.
Eu a destruiria.
Bella voltou-se para longe da porta com tanta pressa que ela quase passou pelo meu carro
sem notá-lo.
Então ela parou quase derrapando, seus joelhos travando em um solavanco. Sua mochila
escorregou pelo seu braço e seus olhos se arregalaram quando focalizaram o carro.
Eu saí, sem me preocupar em me mover numa velocidade humana, e abri a porta do
passageiro para ela. Eu não tentaria mais ludibriá-la. Quando estivessemos a sós, pelo
menos, eu seria eu mesmo.
Ela olhou para mim, supresa novamente, por eu praticamente ter me materializado no
meio da névoa.
E então a surpresa em seus olhos se tornaram em outra coisa, e eu não estava mais
temeroso - nem esperançoso - que seus sentimentos por mim tivessem mudado durante o
curso da noite. Calor, preocupação, fascinação, tudo nadando no que era o chocolate
derretido dos seus olhos.
“Quer ir de carona comigo hoje?” Eu perguntei. Ao contrário do jantar na última noite, eu a
deixaria escolher. De agora em diante, seria sempre a escolha dela.
“Sim, obrigada,” ela murmurou, subindo no carro sem hesitar.
Algum dia eu deixaria de me surpreender pelo fato de ela dizer sim para mim? Eu duvidei.
Eu dei a volta no carro, ansioso para me juntar a ela. Ela não mostrou nenhum sinal de
supresa com a minha súbita reaparição.
A alegria que senti quando ela se sentou ao meu lado não tinha precedentes. Por mais que
eu apreciasse o amor e companheirismo da minha familia, apesar dos vários
entretenimentos e distrações que o mundo tem a oferecer, eu nunca estive feliz dessa
forma. Mesmo sabendo que isso era errado, que isso poderia não terminar bem, eu não
pude evitar por muito tempo estampar um sorriso em minha face.
Minha jaqueta estava dobrada sobre o descanso de cabeça do banco dela. Eu a vi olhando.
“Eu trouxe a jaqueta para você,” Eu disse a ela. Esta era minha desculpa, eu tinha que
arrumar alguma para a minha inesperada visita nesta manhã. Estava frio. Ela não tinha
jaqueta. Certamente esta era uma forma convincente de cavalheirismo. “Eu não gostaria
que você ficasse doente ou algo parecido.”
“Eu não sou assim tão frágil,” ela disse, fitando meu peito ao invés do meu rosto, como se
ela estivesse hesitante em me olhar nos olhos. Mas ela vestiu o casaco antes que eu
tivesse que a ajudar ou persuadir.
“Não é?” Eu sussurrei para mim mesmo.
Ela fitava a estrada enquanto eu acelerava para a escola. Eu pude agüentar o silêncio
apenas por alguns segundos. Eu tinha que saber onde estavam os seus pensamentos nesta
manhã. Tanta coisa havia mudado entre nós desde o último nascer do sol.
“O que, nada de vinte perguntas hoje?” Eu perguntei, mantendo um tom suave.
Ela sorriu, parecendo feliz por eu ter puxado assunto novamente. “Minhas perguntas o
aborrecem?”
“Não tanto quanto as suas reações,” disse a ela com toda honestidade, sorrindo em
resposta ao seu sorriso, que esmaeceu.
“Eu reajo mal? “
“Não, este é o problema. Você encara tudo tão calmamente - isso é algo pouco natural,
me faz imaginar o que realmente você está pensando.”
É claro que tudo que ela fazia ou não fazia me deixava imaginando o que ela pensava.
“Eu sempre digo o que eu realmente estou pensando.”
“Você edita.”
Ela mordeu os lábios novamente. Ela parecia não notar quando fazia isso - era uma
resposta inconsciente à tensão. “Não muito.”
Estas poucas palavras foram suficientes para inflamar minha curiosidade. O que é que ela
deliberadamente escondia de mim?
“O bastante para me deixar louco,” eu disse.
Ela hesitou e então sussurrou, “Você não gostaria de ouvir.”
Eu tive que pensar por um momento, analisar toda a nossa conversa da última noite,
palavra por palavra, antes que eu fizesse a associação. Talvez isso exigisse muita
concentração, pois eu não imaginava nada que eu não quisesse ouvi-la dizer. E então -
pelo tom de sua voz ser o mesmo da última noite; havia uma dor repentina novamente -
Eu me lembrei. Uma vez eu pedi que ela não me dissesse seus pensamentos. Nunca diga
isto, eu vociferei para ela. Eu a fiz chorar…
Era isso que ela escondia de mim? A profundidade dos seus sentimentos sobre mim? Que
eu ser um monstro, não importava para ela, e que ela achava tarde demais para mudar
sua decisão?
Eu não conseguia falar, porque a alegria e a dor eram demasiado intensas para serem
expressas em palavras, o conflito entre elas era muito radical para possibilitar uma
resposta coerente. Havia silêncio no carro, exceto pelo ritmo uniforme de seu coração e
pulmões.
“Onde está o restante de sua familia?” ela perguntou repentinamente.
Eu respirei fundo - registrando o aroma no carro com uma verdadeira dor pela primeira vez
; eu estava me acostumando a isso, eu fazia com satisfação - e me forçando a ser casual
novamente.
- Eles pegaram o carro da Rosalie.
Estacionei perto da capota suspensa do carro em questão. Escondi meu sorriso quando vi
seus olhos arregalarem.
- “Chamativo, não?”
- “Hmm, caramba. Se ela tem isso, porque pega carona com você?”
Rosalie deveria ter apreciado a reação de Bella… se ela estivesse sendo mais objetiva com
respeito a ela , o que provavelmente não iria acontecer.
- “Como eu disse, é chamativo. Nós tentamos nos misturar.”
“Vocês não conseguem”, ela me disse; e então ela sorriu um cuidadoso sorriso.
O jovial, inteiramente despreocupado som do seu riso queimou o meu peito oco como
também fez minha cabeça flutuar com tontura.
“Então por que Rosalie dirigiu hoje se ele é mais notável?” ela perguntou.
“Não percebeu? Estou quebrando todas as regras agora.”
Minha resposta deveria ter sido ligeiramente assustadora - então, é claro, Bella riu dela.
Ela não esperou por mim para abrir sua porta, exatamente como a noite passada. Eu tinha
que aparentar normalidade aqui na escola - então eu não poderia me mover rápido o
bastante para impedir isso - mas ela teria que se acostumar a ser tratada com mais
cortesia, e acostumar-se logo.
Eu caminhei mais perto dela do que ousaria, olhando cuidadosamente por qualquer sinal
de que minha proximidade a perturbaria. Duas vezes sua mão estremeceu-se em direção
à minha e então ela gostaria de trazê-la de volta. Parecia que ela queria me tocar… Minha
respiração disparou.
“Por que vocês têm carros assim, então? Se vocês procuram ter privacidade? - ela me
perguntou enquanto caminhávamos.
“Como um prazer” - eu admiti - “Todos nós gostamos de dirigir rápido”.
“Imagino” ela murmurou, em seu tom de voz.
Ela não olhou para cima para ver minha resposta maliciosa.
“Nuh-uh”! Eu não acredito nisso. Como que Bella conseguiu ignorar isso? Eu não entendo!
Por que?
A mente nebulosa de Jessica interrompeu os meus pensamentos. Ela estava esperando por
Bella, se refugiando da chuva, sob o abrigo da marquise da cafeteria com o casaco de
inverno de Bella debaixo de seu braço. Seus olhos estavam estatelados com descrença.
Bella também a percebeu no exato momento. Um fraco tom rosado tocou sua face quando
Bella registrou a expressão de Jessica. Os pensamentos de Jessica estavam nitidamente
claros em seu rosto.
“Oi Jéssica. Obrigada por lembrar”, Bella lhe agradeceu. Ela apanhou o casaco e Jessica o
entregou sem dizer nenhuma palavra.
Eu tenho que ser educado com os amigos de Bella, mesmo sendo eles bons amigos ou
não.
“Bom dia Jessica”..
Nossa…
Os olhos de Jessica se arregalaram. Foi estranho e divertido… e honestamente, um pouco
embaraçoso… para se ter uma idéia de como ficar perto de Bella me deixou mais gentil.
Parecia que ninguém estava mais com medo de mim. Se Emmett soubesse disso, ele iria
ficar rindo pelo próximo século.
“É…oi” Jessica murmurou e seus olhos lampejaram para o rosto de Bella, cheios de
expressão. “Acho que te vejo em trigonometria”.
Ah, você vai desembuchar tudo para mim. Não vou aceitar não como resposta. Detalhes.
Tenho que saber dos detalhes! Edward gato CULLEN! A vida é tão injusta.
A boca de Bella se torceu. - “É, a gente se vê lá.”
Os pensamentos de Jessica ficaram fora de controle enquanto ela corria para sua primeira
aula, nos espiando uma vez ou outra.
A história inteira. Não vou aceitar nada menos que isso. Eles combinaram de se encontrar
ontem à noite? Eles estão namorando? Há quanto tempo? Como ela pôde guardar segredo
sobre isso? Por que ela guardaria? Não pode ser uma coisa casual - ela tem que estar bem
afim dele. Tem alguma outra opção? Eu vou descobrir. Não vou conseguir não saber de
nada. Será que ela já deu uns amassos nele? Ah, vou desmaiar… De repente os
pensamentos de Jessica ficaram desconexos, e ela deixou que suas fantasias mudas
girassem por sua cabeça. Eu recuei com suas especulações, e não só porque ela tinha
trocado Bella por si mesma nas figuras mentais.
Eu não podia ser assim. Mas mesmo assim, eu… eu queria…
Resisti em admitir isso, mesmo para mim. Em quantas maneiras erradas eu queria colocar
a Bella? Qual iria acabar por matá-la?
Eu sacudi a cabeça e tentei deixar as coisas mais leves.
- “O que vai dizer a ela?” - perguntei a Bella.
- “Ei!” - ela sussurrou ferozmente. - “Pensei que você não pudesse ler minha mente!”
- “Não posso.” - eu a encarei, surpreso, tentando entender suas palavras. Ah - devíamos
estar pensando a mesma coisa ao mesmo tempo. Hmmm, gostei disso. - “Mas” - contei a
ela. - “posso ler a dela - Ela vai pegar você de surpresa na sala.”
Bella gemeu, e deixou a jaqueta escorregar por seus ombros. Não percebi que ela estava a
devolvendo - eu não teria pedido; preferia que ficasse com ela… uma lembrança - então fui
muito devagar para oferecer minha ajuda. Ela me entregou a jaqueta e passou os braços
pela dela, sem olhar para cima para ver que minhas mãos estavam esticadas para ajudar.
Eu fiz uma careta com isso, e então controlei minha expressão antes que ela notasse.
- “Então, o que vai dizer a ela?” - eu pressionei.
- “Que tal uma mãozinha? O que ela quer saber?”
Eu sorri e sacudi a cabeça. Eu queria escutar o que ela estava pensando agora sem
nenhuma dica. - “Isso não é justo”.
Os olhos dela se apertaram. - “Não, você não está partilhando o que sabe - isso é que não
é justo”.
“Certo” - ela não gostava de dois pesos e duas medidas.
Chegamos à porta da classe dela - onde eu teria que deixá-la; me perguntei à toa se a
Srta. Cope iria ser mais favorável sobre uma mudança da minha aula de inglês… Forcei a
minha concentração. Eu podia ser justo.
- “Ela quer saber se estamos namorando escondido” - eu disse lentamente. - “E ela quer
saber como você se sente com relação a mim”.
Seus olhos se arregalaram - dessa vez não de surpresa, mas astutos. Estavam abertos para
mim, legíveis. Ela estava bancando a inocente.
- “Caramba” - ela murmurou. - “O que devo dizer?”
- “Hmmm” - Ela sempre tentava fazer com que eu revelasse mais do que ela. Refleti como
responder.
Uma mecha rebelde do cabelo dela, ligeiramente úmida por causa da neblina, caia por seu
ombro e se enrolava onde a sua clavícula estava escondida por aquele suéter ridículo.
Atraiu meus olhos… os arrastou para ver as outras linhas escondidas…
Me estiquei para pegá-la cuidadosamente, sem tocar em sua pele - a manhã já estava fria
o suficiente sem meu toque - e a coloquei de volta ao lugar em seu coque desarrumado
para que não me distraísse outra vez. Me lembrei quando Mike Newton tinha tocado seu
cabelo, e meu queixo se trincou com a memória. Ela tinha se afastado dele na ocasião. A
reação dela agora não era nada parecida; ao invés disso, seus olhos se arregalaram, seu
sangue correu mais rápido nas veias e uma súbita aceleração em seu coração.
Tentei conter meu sorriso quando a respondi.
- “Acho que pode dizer sim à primeira pergunta… Se não se importa…” - a escolha era
dela, sempre dela. - “É mais fácil do que qualquer outra explicação.”
- “Não me importo…” - ela sussurrou. Seu coração ainda não tinha recuperado o ritmo
normal.
- “E quanto à outra pergunta de Jessica…” - não conseguia esconder meu sorriso agora. -
“Bom, eu estarei ouvindo para saber eu mesmo a resposta.”
Deixar que Bella considerasse isso. Reprimi uma risada e o choque passou por seu rosto.
Me virei rapidamente, antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa. Eu tinha certa
dificuldade em não dar a ela qualquer coisa que ela quisesse. E eu queria escutar os
pensamentos dela, não os meus.
“A gente se vê no almoço” - eu disse à ela sobre o ombro; uma desculpa para checar que
ela ainda estava me encarando, de olhos arregalados. Sua boca estava aberta. Me virei de
novo e fui embora, rindo.
Enquanto eu me afastava, estava vagamente ciente dos pensamentos surpresos e
especulativos que giravam ao meu redor - olhos indo do rosto de Bella à minha figura que
recuava. Prestei pouca atenção neles. Não conseguia me concentrar. Foi muito difícil
manter meus pés se movendo a uma velocidade aceitável enquanto cruzava a grama
encharcada para minha próxima aula. Queria correr - realmente correr, tão rápido que iria
desaparecer, tão rápido que iria parecer que estava voando. Parte de mim já estava
voando.
Coloquei a jaqueta quando entrei na classe, deixando que a fragrância dela flutuasse,
pesada ao meu redor. Eu iria queimar agora - deixar que o cheiro me dessensibilizasse -
para que depois fosse mais fácil ignorar, quando estivesse com ela de novo no almoço…
Era uma coisa boa que os professores não se importavam mais em me chamar. Hoje talvez
tivesse sido o dia que eles me pegassem desprevenido, e sem respostas. Minha cabeça
estava em tantos lugares esta manhã; só meu corpo estava na sala de aula.
É claro que eu estava vigiando Bella. Isso estava se tornando natural - tão automático
quanto respirar. A escutei conversar com um Mike Newton desmoralizado. Ela rapidamente
mudou a conversa para Jessica, e abri um sorriso tão grande que Rob Sawyer, que estava
sentado ao meu lado direito, se encolheu visivelmente e escorregou na cadeira, para longe
de mim.
Argh. Assustador.
Bom, ele não estava totalmente errado.
Também estava monitorando Jessica livremente, observando enquanto ela definiria suas
perguntas para Bella. Mal podia esperar até o quarto tempo, dez vezes mais ansioso e
curioso que a garota humana que queria uma fofoca nova.
E também estava escutando Angela Weber.
Não tinha esquecido a gratidão que tinha sentido por ela - primeiro por só pensar coisas
boas a respeito de Bella, depois pela ajuda à noite passada. Então eu esperei pela manhã,
procurando por algo que ela quisesse. Achei que seria fácil; como qualquer outro humano,
devia haver alguma coisa bugiganga ou brinquedo que ela quisesse. Vários,
provavelmente. Entregaria algo anonimamente e nos deixaria quite.
Mas Angela provou ser quase tão desatenciosa com seus pensamentos quanto Bella. Ela
era estranhamente satisfeita para uma adolescente. Feliz. Talvez essa fosse a razão para
sua bondade incomum - ela era uma daquelas raras pessoas que tinham o que amavam e
amavam o que tinham. Se ela não estivesse prestando atenção aos professores e às
anotações, estava pensando dos irmãos gêmeos que levaria à praia nesse final de semana
- antecipando a animação deles com um prazer quase maternal. Ela cuidava deles de vez
em quando, mas não se sentia rancorosa com esse fato… era bem carinhoso.
Mas não me ajudava muito.
Tinha que ter alguma coisa que ela queria. Eu só teria que continuar procurando. Mas
depois. Agora era a hora da aula de trigonometria de Bella com Jessica.
Não estava prestando atenção aonde ia quando fui para a aula de inglês. Jessica já estava
em seu lugar, os dois pés batendo impacientemente no chão enquanto ela esperava Bella
chegar.
Ao contrário, quando me sentei em minha cadeira na sala de aula, fiquei completamente
parado. Tinha que me lembrar de me mexer uma hora ou outra. Manter a fachada. Foi
difícil, meus pensamentos estavam tão concentrados nos de Jessica. Esperava que ela
fosse prestar atenção, realmente tentar ler o rosto de Bella para mim.
As batidas dos pés de Jessica se intensificaram quando Bella entrou na sala.
Ela parece… triste. Por quê? Talvez não tenha nada acontecendo com o Edward Cullen.
Isso seria um desapontamento. Exceto que… então ele ainda está disponível… se de
repente ele está interessado em namorar, não me importo em ajudá-lo com isso…
O rosto de Bella não parecia triste, parecia relutante. Ela estava preocupada - ela sabia que
eu iria escutar tudo isso. Sorri para mim mesmo.
- “Me conta tudo!” - Jess mandou enquanto Bella ainda estava tirando o casaco e
pendurando nas costas de sua cadeira. Ela estava se mexendo com deliberação, sem
vontade.
Argh, ela é tão lerda. Vamos passar para as coisas interessantes!
-” O que quer saber?” - Bella escapou quando se sentou.
- “O que aconteceu ontem à noite?”
- “Ele me levou para jantar e depois me levou em casa.”
- “Como chegou em casa tão rápido?”
Eu observei Bella rolar os olhos à suspeita de Jessica.
- “Ele dirige como um louco. Foi apavorante.”
Ela sorriu um pouco, e eu ri em voz alta, interrompendo os anúncios do Sr. Mason. Eu
tentei transformar a risada em um acesso de tosse, mas ninguém se enganou. O Sr. Mason
me lançou um olhar irritado, mas eu nem me preocupei em escutar o pensamento por trás
dele. Estava ouvindo a Jessica.
Ah. Parece que ela está falando a verdade. Por que está me fazendo arrancar tudo isso
dela, palavra por palavra? Eu estaria me gabando a plenos pulmões se fosse comigo.
- “Foi tipo um encontro, disse a ele para encontrar você lá?”
Jessica viu a surpresa passar pela expressão de Bella, e ficou desapontada como isso
parecia ser verdade.
- “Não… Eu fiquei muito surpresa em vê-lo lá” - Bella disse a ela.
- “O que está acontecendo? - Mas ele pegou você para vir à escola hoje? - Tem que ter
mais coisa nessa história”.
“Sim - isso era uma surpresa, também. Ele percebeu que eu não tinha uma jaqueta noite
passada”.
Isso não é muito divertido, Jessica pensou, desapontada novamente.
Eu estava cansado da sua linha de perguntas - Eu queria ouvir algo que eu não soubesse
realmente. Eu esperei que ela não estivesse tão descontente que ela poderia pular as
questões que eu estava esperando.
“Então você vai sair com ele novamente?” Jessica perguntou.
“Ele se ofereceu para me levar a Seattle sábado porque ele pensa que o meu carro não
consegue chegar até lá - isso conta?”
Hmm. Bom, cuide dela. Bella está maluca.
“Sim” Jessica respondeu a pergunta de Bella.
“Bom, então, sim.”
“U-A-U… Edward Cullen”. Ela gostando dele ou não, isso é grande.
“Eu sei.” Bella concordou.
O tom de sua voz encorajou Jessica. Finalmente - ela soa como se gostasse! Ela deve estar
realizada…
“Peraí” Jessica falou, de repente se lembrando da pergunta mais vital “Ele já te beijou?”
Por favor diga sim. E depois descreva cada segundo!
“Não.” Bella disse, e então ela olhou para suas mãos, sua face corando. “Não é bem
assim.”
Droga. Eu queria… há. parece que ela gostaria disso.
Eu franzi o cenho. Bella parecia chateada sobre algo, mas não poderia ser desapontamento
como Jessica assumiu. Ela não poderia querer aquilo. Sem saber o que ela sabe. Ela não
poderia querer estar perto de meus dentes. Por tudo que ela sabia, eu tinha presas.
Eu estremeci.
“”Você acha que Sábado…?” Jessica continuou.
Bella pareceu mais frustrada do que ela dissse, “Eu realmente duvido.”
É, ela realmente desejava. Que droga para ela.
Seria porque eu estava ouvindo isso pelo “filtro” das percepções de Jessica que pareceu
que ela estava certa?
Por um segundo eu me distraí pela idéia, o impossível, sobre como eu gostaria de beijá-la.
Meu lábios em seus lábios…
E então ela morre.
Eu balancei minha cabeça, e me mandei prestar atenção na conversa.
“Sobre o que foi que vocês conversaram?” Você conversou com ele, ou você fez ele falar
cada informação sobre ele que você queria saber?
Eu sorri. Jessica não estava longe.
“Eu não sei, Jess, um monte de coisas. Nós falamos um pouco sobre o trabalho de inglês.”
Só um pouquinho. Eu sorri, animal.
Oh, fala sério. “Por favor, Bella. Me dê alguns detalhes.”
Bella pensou por um minuto.
“Bom…tudo bem, eu te digo um. Você precisava ter visto a garçonete flertando com ele -
foi até um pouco demais. Mas ele não estava prestando nem um pouco de atenção”.
Que detalhe estranho para contar. Eu estava surpresa que Bella havia percebido. Pareceu
uma coisa bem inconseqüente.
Interessante… “Isso é um bom sinal. Ela era bonita?”
Hmm, Jéssica deu mais atenção do que eu. Devia ser coisa feminina.
- “Muito” - Bella disse a ela - “E devia ter uns 19 ou 20 anos”.
Jéssica ficou momentaneamente distraída pela memória de Mike e ela no encontro de
segunda à noite - Mike sendo amigável demais com a garçonete que Jessica não tinha
considerado nem um pouco bonita. Ela espantou a memória e voltou, oprimindo sua
irritação, para perguntar os detalhes.
- “Melhor ainda. Ele deve gostar de você”.
- “Eu acho que sim” - Bella disse, e eu estava na beirada na cadeira, meu corpo rígido. -
“Mas é difícil saber. Ele é sempre tão misterioso”.
Eu não devia ter sido tão transparentemente óbvio e fora de controle quanto tinha
pensado. Ainda… observadora como ela era… Como não podia perceber que estava
apaixonado por ela? Eu procurei por nossa conversa, quase surpreso de não ter dito as
palavras em voz alta. Parecia que esse fato estava implícito em cada palavra entre nós.
“Uau. Como você senta na frente de um modelo e conversa normalmente? - Não sei como
você tem coragem de ficar sozinha com ele”. - Jessica disse.
Choque passou pelo rosto de Bella. - “Por quê?”
Reação estranha. O que ela acha que eu quero dizer? - “Ele é tão…” - qual é a palavra
certa? - “intimidador. Eu não saberia o que dizer a ele” - Nem consegui falar inglês com ele
hoje, e tudo que ele disse foi bom dia. Devo ter parecido uma idiota.
Bella sorriu. - “Tenho uns problemas de incoerência quando estou perto dele”.
Ela devia estar tentando fazer com que Jessica se sentisse melhor. Ela era quase
anormalmente possuída quando estávamos juntos
- “Ah, sim”. - Jessica suspirou. - “Ele é mesmo incrivelmente bonito”.
O rosto de Bella ficou mais frio. Seus olhos brilharam do mesmo jeito que eles faziam
quando ela sentia alguma injustiça. Jessica não reconheceu a mudança na expressão dela.
- “Há muito mais nele do que isso.” - Bella repreendeu.
Aaaah, agora estamos chegando a algum lugar. - “É mesmo? Tipo o quê?”
Bella mordeu o lábio por um momento. - “Não posso explicar muito bem…” - ela finalmente
disse. - “Mas ele é ainda mais inacreditável por trás daquele rosto.” - Ela desviou os olhos
de Jessica, seus olhos ligeiramente desfocados como se estivesse vendo algo muito longe.
A emoção que senti agora era remotamente familiar àquela que sentia quando Carlisle ou
Esme me exaltavam além do que eu merecia. Similar, mas mais intenso, mais consumidor.
Conta essa para outra pessoa - não tem nada melhor que aquele rosto! A não ser o corpo.
- Será possível? - Jessica deu um sorriso falso.
Bella não se virou. Ela continuou a olhar a distância, ignorando Jessica.
Uma pessoa normal estaria triunfante. Talvez se eu mantivesse as perguntas simples. Ha
ha. Como se estivesse falando com alguém do jardim de infância. - “Então gosta dele, né?”
Fiquei rígido de novo.
Bella não olhou para Jessica. - “Sim.”
- “Quer dizer, você realmente gosta dele?”
- “Sim.”
Olha esse rubor!
Estava olhando.
- “O quanto você gosta dele?”
A sala de inglês podia estar em chamas e eu não iria notar.
O rosto de Bella estava vermelho vivo agora - quase conseguia sentir o calor da imagem
mental.
- “Demais.” - ela sussurrou. - “Mais do que ele gosta de mim. Mas não vejo como evitar
isso.”
Droga! O que o Sr. Varner perguntou agora? - “Hm, que número Sr. Varner?”
Foi bom que a Jessica não pudesse mais interrogar Bella. Precisava de um minuto.
Que diabos que essa menina estava pensando agora? Mais do que ele gosta de mim?
Como ela inventou isso? Mas não vejo como evitar isso? O que isso queria dizer? Não
conseguia achar uma explicação racional para as palavras. Era praticamente sem sentido.
Parecia que eu não podia ter certeza de nada. Coisas óbvias, coisas que faziam perfeito
sentido, de algum jeito se deformavam e viravam ao contrário naquele cérebro bizarro
dela. Mais do que ele gosta de mim? Talvez eu não devesse desistir da instituição ainda.
Olhei para o relógio, batendo os dentes. Como meros minutos são tão impossivelmente
longos para um imortal? Onde estava minha perspectiva?
Meu queixo estava fechado por toda a aula de trigonometria do Sr. Varner. Ouvi mais dela
do que da minha própria aula. Bella e Jessica não falaram outra vez, mas Jessica espiou
Bella várias vezes, e uma vez o rosto dela estava escarlate de novo sem razão aparente.
O almoço não ia chegar rápido o suficiente.
Não tinha certeza se Jessica iria ter algumas das respostas que eu queria quando a classe
terminasse, mas Bella foi mais rápida do que ela.
Assim que o sinal tocou, Bella se virou para Jessica.
- “Na aula de inglês, o Mike me perguntou se você disse alguma coisa sobre a noite de
segunda.” - Bella disse, um sorriso nos cantos dos lábios. Eu entendi isso - o ataque era a
melhor defesa.
“Mike perguntou sobre mim?” A felicidade deixou a mente de Jessica repentinamente
desprotegida, gentil, sem o tom falso de costume. - “Tá brincando! O que você disse?”
- “Disse a ele que você falou que se divertiu muito… Ele pareceu satisfeito.”
- “Me conta exatamente o que ele disse, e a sua resposta exata!”
Claramente isso era tudo o que eu ia arrancar de Jessica hoje. Bella estava sorrindo como
se estivesse pensando a mesma coisa. Como se tivesse ganhado a rodada.
Bom, o almoço seria outra história. Teria mais sucesso em ter as respostas dela do que de
Jessica, ia ter certeza disso.
Mas pude suportar espiar os pensamentos da Jessica pela quarta aula. Não tinha paciência
para seus pensamentos obsessivos de Mike Newton. Já tinha o agüentado o suficiente nas
últimas duas semanas. Ele tinha sorte em estar vivo.
Me mexi apaticamente na aula de educação física com Alice, do modo que sempre nos
movíamos quando se tratava de atividade física com os humanos. Ela era minha
companheira de time, naturalmente. Era o primeiro dia de badminton. Suspirei de tédio,
girando a raquete em câmera lenta para acertar a bola e mandá-la para o outro lado.
Lauren Mallory estava no outro time; ela errou. Alice rodava sua raquete como um bastão,
olhando o teto.
Todos nós detestávamos educação física, principalmente Emmett. Fingir jogar era um
insulto a sua filosofia. Educação física hoje era pior que o normal - me senti tão irritado
quanto Emmett sempre se sentia.
Antes que minha cabeça pudesse explodir de impaciência, o treinador Clapp terminou os
jogos e nos dispensou mais cedo. Fiquei ridiculamente agradecido que ele tivesse pulado o
café-da-manhã - uma nova tentativa de dieta - e a fome conseqüente o tinha deixado com
pressa para deixar o campus e encontrar um sanduíche engordurado em algum lugar. Ele
prometeu a si mesmo que começaria amanhã de novo…
Isto me deu tempo suficiente para chegar ao prédio de matemática antes que a aula de
Bella terminasse.
Se divirta, Alice pensou enquanto se afastava para encontrar Jasper. Só mais alguns dias
para ser paciente. Acho que não vai dizer oi para a Bella por mim, não é?
Sacudi a cabeça, exasperado. Todos os que tinham poderes psíquicos eram tão metidos?
Só para você saber, vai estar sol dos dois lados da baía esse fim-de-semana. Talvez queira
refazer seus planos.
Eu suspirei enquanto continuava para a direção oposta. Meditar, mas útil.
Apoiei-me na parede perto da porta, esperando. Estava tão perto que podia escutar a voz
de Jessica através dos tijolos, assim como seus pensamentos.
- “Não vai se sentar com a gente hoje, não é?” Ela parece… animada. Aposto que tem um
monte de coisas que não me falou.
- “Acho que não.” - Bella respondeu, estranhamente insegura.
Não tinha prometido almoçar com ela? O que ela estava pensando?
Elas saíram da sala juntas, e os olhos das duas garotas se arregalaram quando me viram.
Mas eu só podia ouvir a Jessica.
Ótimo. Uau. Ah, com certeza tem mais coisa acontecendo por aqui do que ela me contou.
Talvez eu ligue para ela hoje à noite… Ou talvez não deva encorajá-la. Argh. Espero que
ele a supere rápido. O Mike é bonitinho, mas… uau.
- “A gente se vê depois, Bella.”
Bella andou na minha direção, parando a um passo de distância, ainda insegura. Sua pele
estava rosa nas bochechas.
Eu a conhecia bem o suficiente a essa altura para ter certeza que não havia medo por trás
de sua hesitação. Aparentemente, isso era sobre algum abismo que ela tinha imaginado
entre os sentimentos dela e os meus. Mais do que ele gosta de mim. Absurdo!
- “Oi.” - eu disse, minha voz estava um pouco seca.
O rosto dela ficou mais brilhante. - “Oi.”
Não parecia que ela ia falar outra coisa, então eu abri caminho até o refeitório e ela andou
silenciosamente ao meu lado.
A jaqueta tinha funcionado - o cheiro dela não foi o golpe que geralmente era. Só era uma
intensificação da dor que eu já sentia. Conseguia ignorar mais facilmente do que uma vez
teria acreditado ser possível.
Bella estava inquieta enquanto esperávamos na fila, brincando distraída com o zíper de sua
jaqueta e mudando o peso, nervosa, de um pé para o outro. Ela me olhou algumas vezes,
mas sempre que encontrava meu olhar, olhava para baixo como se estivesse
envergonhada. Isso era por que todo mundo estava nos olhando? Talvez ela conseguisse
escutar os cochichos - a fofoca era tão verbal quanto mental hoje.
Ou talvez ela tenha percebido, pela minha expressão, que estava enrascada.
Ela não disse nada até que eu estava reunindo seu almoço. Não sabia do que ela gostava -
ainda não - então apanhei um de cada.
- “O que está fazendo?” - ela sibilou em uma voz baixa. - “Não está pegando tudo isso
para mim, não é?”
Sacudi a cabeça, e entreguei a bandeja para o caixa. - “Metade é para mim, é claro.”
Ela ergueu uma sobrancelha ceticamente, mas não disse mais nada enquanto eu pagava
pela comida e a acompanhava à mesa que nós nos sentamos na semana passada antes da
experiência desastrosa com a coleta de sangue. Parecia que tinha sido a mais tempo do
que há alguns dias. Tudo estava diferente agora.
Ela sentou-se de frente para mim novamente. Eu empurrei a bandeja em sua direção.
“Pegue o que quiser”, eu encorajei.
Ela escolheu uma maçã, virando ela em suas mãos, um olhar pensativo em seu rosto.
“Eu estou curiosa”.
Que surpresa.
“O que você faria se uma pessoa te desafiasse a comer alguma coisa?” ela continuou em
uma voz baixa que não alcançaria os ouvidos humanos. Ouvidos imortais eram um outro
caso, se esses ouvidos estivessem prestando atenção. Eu provavelmente devia ter
mencionado alguma coisa para eles mais cedo…
“Você está sempre curiosa”, eu me queixei. Oh, bem. Não era como se eu nunca tivesse
comido antes. Isso fazia parte da charada. Uma parte nem um pouco prazerosa.
Eu procurei pela coisa mais próxima e a segurei nas mãos enquanto eu mordia um pedaço
do que quer que fosse. Sem olhar, eu não podia dizer. Era repugnante e espesso e
repulsivo como qualquer comida humana. Eu mastiguei rapidamente e engoli, tentando
manter as caretas fora do meu rosto. O bolo de comida se moveu lenta e
desconfortavelmente goela abaixo. Eu suspirei e imaginei em como eu iria ter que colocar
isso para fora depois. Nojento.
A expressão de Bella estava chocada. Impressionada.
Eu quis revirar meus olhos. É claro que nós tínhamos causado algumas decepções.
“Se alguém te desafiasse a comer areia, você poderia, não poderia?”
O seu nariz se enrugou e ela sorriu. “Eu já fiz isso uma vez…num desafio. Não foi tão
ruim”.
Eu ri “Eu acho que não estou muito surpreso”
Eles parecem à vontade, não parecem? Boa linguagem corporal. Eu vou falar com Bella
depois. Ele está se inclinando em direção à ela como se deve, se ele estiver interesse. Ele
parece interessado. Ele parece… perfeito. Jessica suspirou. Aiai.
Eu encontrei com os olhos curiosos de Jessica, e ela olhou para longe nervosa, dando
risadinhas com a garota ao seu lado.
Hmmm. Melhor eu ficar com Mike. Realidade, não fantasia…
“Jessica está analisado tudo que eu faço,” Eu informei à Bella “Ela vai falar com você sobre
isso depois.”
Eu empurrei o prato de comida de volta em direção à ela - pizza, eu percebi - imaginando
a melhor forma de começar. Minha frustração de antes queimou novamente com as
palavras se repetindo em minha cabeça: Muito mais do que ele gosta de mim. Mas eu não
sei como posso evitar isso.
Ela deu uma mordida no mesmo pedaço de pizza. É impressionante como ela confiava em
mim agora. É claro, ela não sabia que eu era venenoso - não que aquele pedaço de comida
pudesse machucá-la. Ainda assim, eu esperava que ela me tratasse diferente. Como outra
coisa. Ela nunca fez isso - pelo menos, não de uma forma negativa…
Eu devia começar de forma gentil.
“Então a garçonete era bonita, não era?”
Ela ergueu uma sobrancelha de novo. “Você realmente não reparou?”
Como se qualquer outra mulher pudesse tirar a minha atenção de Bella. Absurda, de novo.
“Não. Eu não estava prestando atenção. Eu tinha muitas coisas na cabeça”. Não pior do
que as que haviam sido envolvidas pela sua blusinha fina.
Ao menos ela não teria que usar aquele suéter horrível hoje.
“Pobre garota” Bella disse, sorrindo.
Ela gostou que eu não tivesse achado a garçonete interessante de qualquer forma. Eu
podia entender isso. Quantas vezes eu tinha me imaginando mutilando Mike Newton na
sala de biologia?
Ela não conseguiria compreender honestamente que esses seus sentimentos humanos,
fruto de dezessete anos humanos, podiam ser mais fortes que as minhas paixões imortais
que tinham se construído por um século.
“Algo que você disse pra Jessica…” Eu não conseguia manter a minha voz casual. “Bem,
me incomodou”.
Ela se colocou imediatamente na defensiva.
“Eu não estou surpresa que você tenha ouvido algo de que não tenha gostado. Você sabe
o que as pessoa dizem sobre espionar”.
Os bisbilhoteiros nunca ouvem bem deles, esse era o ditado.
“Eu te disse que estaria ouvindo” eu a lembrei.
“E eu te avisei que você não ia querer saber tudo o que eu pensava”.
Ah, ela estava pensando de quando eu a fiz chorar. O remorso fez minha voz endurecer.
“Você avisou. Porém, você não estava precisamente certa. Eu quero saber o que você
pensa - tudo. Eu só queria que você não estivesse pensando em… algumas coisas”.
Mais meias-verdades. Eu sabia que eu não podia querer que ela se importasse comigo.
Mas eu queria. É claro que eu queria.
“Isso é uma distinção”. Ela rosnou, fazendo cara feia para mim.
“Mas não é isso que importa no momento”.
“Então o que é?”
Ela se inclinou em minha direção, sua mão ao redor de seu pescoço. Isso atraiu meus
olhos - me distraindo. Como sua pele devia ser suave…
Se concentre, eu me ordenei.
“Você realmente acredita que gosta de mim mais do que eu gosto de você?” eu perguntei.
A pergunta parecia ridícula para mim, como se as palavras estivessem trocadas.
Seus olhos se arregalaram, sua respiração parou. Então ela olhou para longe, piscando
rapidamente. Sua respiração saiu em um baixo suspiro.
“Você está fazendo isso de novo”, ela murmurou.
“O que?”
“Me deixando deslumbrada”, ela admitiu, encontrando meus olhos cuidadosamente.
“Oh” Hmm. Eu não tinha muita certeza do que fazer quanto a isso. Nem eu tinha certeza
se eu não queria deslumbrá-la. Eu ainda estava emocionado por eu poder deslumbrá-la.
Mas isso não estava ajudando o progresso da conversa.
“Não é sua culpa”, ela suspirou “Você não consegue evitar”.
“Você vai responder a pergunta?” eu exigi.
Ela encarou a mesa. “Sim.”
Isso foi tudo que ela disse.
“Sim, você vai responder; ou sim, você realmente acha isso?” eu perguntei
impacientemente.
“Sim, eu realmente acho isso”, ela disse sem olhar para cima. Tinha um fraco tom de
tristeza em sua voz. Ela corou de novo, e seus dentes se moveram inconscientemente para
mordiscar seu lábio.
Abruptamente, eu percebi que isso era muito difícil para ela admitir, porque ela realmente
acreditava nisso. E eu não era melhor do que aquele covarde, Mike, pedindo para ela
confirmar seus sentimentos antes que eu confirmasse os meus próprios. Não importava
que o que eu sentisse estivesse totalmente claro para mim. Eu ainda não os tinha
esclarecido para ela, e isso não tinha perdão.
“Você está errada”, eu prometi. Ela deve ter ouvido a ternura em minha voz.
Bella olhou para mim, seus olhos opacos, não dizendo nada. “Você não tem como saber
isso” ela murmurou.
Ela achava que eu estava subestimando seus sentimentos porque eu não podia ouvir seus
pensamentos. Mas, na verdade, o problema é que ela estava subestimando os meus.
“O que te faz pensar isso?” eu me admirei.
Ela me encarou, as rugas entre suas sobrancelhas, mordendo seus lábios. Pela milionésima
vez, eu desejava desesperadamente que eu pudesse ouvi-la.
Eu estava prestes a implorar para que ela me dissesse sobre o que ela tanto pensava, mas
ela ergueu um dedo para não me deixar falar.
“Me deixe pensar” ela pediu.
Enquanto ela estava simplesmente organizando os seus pensamentos, eu podia me manter
paciente.
Ou podia fingir que mantinha.
Ela pressionou suas mãos juntas, cruzando e descruzando seus finos dedos. Ela estava
olhando suas mãos como se elas pertencessem à outra pessoa enquanto ela falava.
“Bem, tirando o óbvio” ela murmurou. “Às vezes… Eu não posso ter certeza - eu não leio
mentes - mas às vezes parece que você está querendo dizer adeus, mas diz outra coisa”,
ela não olhou para cima.
Ela percebeu, não percebeu? Ela percebeu que foi somente fraqueza e egoísmo que me
mantiveram aqui? Ela pensa pior de mim por isso?
“É uma questão de perspectiva” eu soltei, então olhei com horror a dor que cruzava a sua
expressão. Eu me apressei para contradizer a sua suposição.
“Porém, é exatamente por isso que você está errada, no entanto -”, eu comecei, então eu
parei, me lembrando das primeiras palavras de sua explicação “O que você quis dizer com
‘o óbvio’?”
“Bem, olhe pra mim” ela disse.
Eu estava olhando. Tudo o que eu fazia era olhar para ela. O que ela quis dizer?
“Eu sou absolutamente normal,” ela explicou. “Bem, com exceção das experiências de
quase-morte e de ser tão atrapalhada que eu quase chego a ser uma inválida. E olhe pra
você”. Ela abanou o ar em minha direção, como se ela estivesse explicando coisa tão óbvia
que não era necessário de se dizer.
Ela pensava que era normal? Ela pensou que eu era de alguma forma melhor do que ela?
Na avaliação de quem? Pessoas tolas, de mente pequena, humanos cegos como Jessica ou
Sra. Cope? Como que ela não percebeu que ela era a mais bela… mais delicada… essas
palavras não eram o suficiente.
E ela não tinha nem idéia.
“Você não se vê muito claramente, sabe” eu disse a ela. Eu tenho que admitir que você
estava certa sobre as experiências de quase-morte…” eu ri sem humor. Eu não achava
cômico o destino miserável que a assombrava. A falta de jeito, no entanto, era um pouco
engraçado. Amável. Ela acreditaria em mim se eu dissesse a ela que ela era linda por
dentro e por fora? Apesar de que ela acharia uma corroboração mais persuasiva. “Mas
você não ouviu o que todos os seres humanos do sexo masculino nessa escola pensaram
de você no seu primeiro dia”.
Ah, a esperança, a vibração, a ansiedade daqueles pensamentos. A velocidade com que
eles se tornaram em fantasias impossíveis. Impossíveis, porque ela não queria nenhum
deles.
Eu fui o único a quem ela disse sim.
Meu sorriso devia estar parecendo presunçoso.
Ela ficou inexpressiva com surpresa. “Eu não acredito nisso,” ela resmungou.
“Acredite em mim apenas dessa vez - você é o oposto do comum.”
Sua existência era justificativa suficiente pra criação de todo o mundo.
Ela não estava acostumada com elogios, eu podia ver isso. Outra coisa a qual ela apenas
tinha que se acostumar. Ela se esguichou, e mudou de assunto. “Mas eu não estou dizendo
adeus.”
“Você não vê? Isso é o que prova que eu estou certo. Eu me preocupo mais, porque se eu
tenho que fazer isso…” Algum dia eu seria bondoso o suficiente para fazer a coisa certa?
Eu mexi a cabeça sem esperança. Eu teria que encontrar força. Ela merecia uma vida. Não
o que Alice tinha visto vindo pra ela. “Se ir embora é a coisa certa a fazer…” E tinha que
ser a coisa certa, não tinha? Não havia anjo imprudente. Bella não me pertencia. “Então eu
me machucarei para mantê-la sem se machucar, para mantê-la salva.”
Enquanto eu dizia as palavras, eu desejava que fosse verdade.
Seus olhos cintilaram pra mim. De alguma forma, minhas palavras a irritaram. “E você não
acha que eu faria o mesmo?” ela demandou furiosa.
Tão furiosa - tão macia e tão frágil. Como ela poderia machucar alguém? “Você nunca teria
que fazer essa escolha,” eu disse a ela, novamente triste pela grande diferença entre nós.
Ela me fitou, o carinho substituindo a raiva em seus olhos e vindo a tona a pequena dobra
entre eles.
Havia algo verdadeiramente errado com a ordem do universo se alguém tão bom e tão
quebrável não merecia um anjo da guarda para mantê-la fora de problemas.
Bem, eu pensei com um humor negro, pelo menos ela tinha um vampiro da guarda.
Eu sorri. Como eu gostava da minha desculpa para ficar. “Claro, manter você segura está
começando a parecer uma ocupação de tempo integral que requer minha presença
constante.”
Ela sorriu, também. “Ninguém tentou me matar hoje,” ela disse levemente, e então sua
expressão se tornou especulativa por metade de um segundo antes que seus olhos
ficassem opacos novamente.
“Ainda,” eu adicionei secamente.
“Ainda,” ela concordou para minha surpresa. Eu esperava que ela negasse qualquer
necessidade de proteção.
Como ele pôde? Aquele burro egoísta! Como ele pôde nos fazer isso? O grito da mente
pungente de Rosalie quebrou minha concentração.
“Fácil, Rose,” eu ouvi Emmett sussurrar do outro lado da cantina. Seus braços estavam a
redor dos ombros dela, segurando-a firme a seu lado - restringindo-a.
Desculpe, Edward, Alice pensou se culpando. Ela poderia dizer que Bella sabia muito pela
conversa de vocês… e, bem, seria pior se eu não a tivesse contado a verdade antes. Confie
em mim.
Eu estremeci pela figura mental seguinte, do que teria acontecido se eu dissesse a Rosalie
que Bella sabia que eu era um vampiro em casa, onde Rosalie não tinha uma fachada a
manter. Eu teria que esconder meu Aston Martin em algum lugar fora do estado se ela não
se acalmasse até que o tempo escolar acabasse. A visão do meu carro preferido,
estropiado e queimando, foi perturbadora - embora eu soubesse que ganharia a
retribuição.
Jasper não estava muito mais feliz.
Eu negociaria com os outros mais tarde. Eu tinha muito pouco tempo permitido pra ficar
com Bella, e eu não ia desperdiçá-lo. E ouvir Alice me lembrando que eu tinha alguns
trabalhos a fazer.
“Eu tenho outra pergunta para você,” eu disse evitando os ataques histéricos mentais de
Rosalie.
“Diga,” Bella disse sorrindo.
“Você realmente precisa ir a Seattle esse sábado, ou é só uma desculpa para fugir de todos
os seus admiradores?”
Ela fez uma careta para mim. “Você sabe que eu ainda não te perdoei pela coisa com o
Tyler. É sua culpa, ele se iludir pensando que eu vou ao baile com ele.”
“Oh, ele encontraria uma chance de te convidar sem minha ajuda - eu só queria ver sua
cara.”
Eu ri nesse momento, lembrando da sua expressão consternada. Nada que eu tinha dito
para ela sobre a minha própria história negra tinha feito ela parecer tão aterrorizada. A
verdade não a deixava aterrorizada. Ela queria estar comigo. Espantoso.
“Se eu tivesse te convidado, você teria recusado?”
“Provavelmente não,” ela disse. “Mas eu teria cancelado mais tarde - fingindo estar doente
ou ter torcido o tornozelo.”
Que estranho. “Por que você faria isso?”
Ela balançou a cabeça desapontada que eu não tivesse entendido de primeira.
“Você nunca me viu na educação física, eu suponho, eu acho que você entenderia.”
Ah. “Você está se referindo ao fato de que você não consiga atravessar uma superfície
estável sem achar algo para tropeçar?”
“Obviamente.”
“Isso não seria um problema. Tudo depende de quem está guiando.”
Por uma fração de segundos, eu estava imerso na idéia de segura-la em meus braços em
uma dança - onde ela usaria algo bonito e delicado, e não aquele horrível suéter.
Com perfeita clareza, eu me lembrei de como o corpo dela se sentiu embaixo do meu logo
após tirá-la do caminho da van desgovernada. Mais forte que o pânico ou o desespero ou a
mortificação, eu podia lembrar-me daquela sensação. Ela era tão quente e tão macia, se
encaixando perfeitamente em minha própria forma de pedra…
Eu me libertei da memória.
“Mas você ainda não me disse -” eu disse rapidamente, impedindo ela de discutir comigo
sobre o seu desajeitamento, como ela claramente pretendeu fazer.
“Você está decidida a ir pra Seattle, ou se importaria de fazermos algo diferente?”
Divergente - dando a ela uma escolha, sem dar a ela a possibilidade de fugir de mim por
um dia. Dificilmente justo da minha parte. Mas eu fiz uma promessa a ela noite passada…
E eu gostei da idéia de poder cumpri-la - quase tanto quanto a idéia me aterrorizava.
O sol deveria estar brilhando no sábado. Eu poderia mostrar para ela o verdadeiro eu, se
eu fosse bravo o suficiente para suportar o seu horror e a repugnância. Eu conhecia
apenas um lugar para correr tal risco…
“Eu estou aberta a alternativas,” Bella disse.” Mas eu tenho um favor a pedir.”
Uma qualificação, sim. O que será que ela queria de mim?
“O que?”
“Posso dirigir?”
Era essa a idéia dela de diversão? “Por quê?”
“Bem, é por que quando eu disse a Charlie que iria a Seattle, ele especificamente
perguntou se eu iria sozinha, e até o momento eu ia. Se ele perguntar novamente, eu
provavelmente não vou mentir, mas não acho que ele vá perguntar de novo, e deixar
minha picape em casa só levantaria o assunto sem nenhuma necessidade. E, além disso,
porque você dirige de um jeito que me dá medo.”
Virei meus olhos para ela. - “De todas as coisas sobre mim que podem te dar medo, você
se preocupa com minha direção.” - Realmente, o cérebro dela funcionava de trás para
frente. Sacudi a cabeça, desgostoso.
Edward, Alice chamou urgentemente.
De repente eu estava olhando para um círculo de luz do sol, distraído por uma das visões
de Alice.
Era um lugar que eu conhecia bem, um lugar que eu tinha considerado levar Bella - uma
pequena clareira aonde ninguém ia além de mim. Um lugar bonito e quieto eu podia ficar
sozinho - longe de qualquer trilha ou habitação humana, que até minha mente podia ficar
calma e ter paz.
Alice reconheceu também, porque ela já tinha me visto lá não fazia muito tempo, em outra
visão - uma dessas visões rápidas e indistintas que Alice tinha me mostrado no dia em que
salvei Bella da van.
Nessa visão vacilante, eu não tinha estado sozinho. E agora estava claro - Bella estava lá
comigo. Então eu era corajoso o suficiente. Ela olhava para mim, arco-íris dançando em
seu rosto, seus olhos insondáveis.
É o mesmo lugar, Alice pensou, sua mente cheia de um horror que não combinava com a
visão. Tensão, talvez, mas horror? O que ela quis dizer, é o mesmo lugar?
E então eu vi.
Edward! Alice protestou, estridente. Eu a amo, Edward!
Eu a ignorei sem dó.
Ela não amava a Bella do jeito que eu amava. A visão dela era impossível. Errada. Ela
estava cega, de algum jeito, vendo coisas impossíveis.
Nem meio segundo havia se passado. Bella estava olhando curiosamente para meu rosto,
esperando que eu concordasse com seu pedido.
Ela tinha visto o lampejo de terror, ou tinha sido rápido demais para ela?
Me concentrei nela, em nossa conversa inacabada, empurrando Alice e suas visões falhas
de meus pensamentos. Elas não mereciam minha atenção.
Não consegui manter o tom alegre da brincadeira.
- “Não quer contar a seu pai que vai passar o dia comigo?” - eu perguntei, um tom sombrio
cobrindo minha voz.
- “Com Charlie é melhor não pecar pelo excesso.” - disse Bella, certa deste fato. - “Aonde
vamos, aliás?”
Alice estava errada. Muito errada. Não tinha chance disso acontecer. E era só uma visão
antiga, inválida. As coisas tinham mudado.
- “O tempo estará bom” - eu disse a ela lentamente, lutando contra o pânico e a indecisão.
Alice estava errada. Eu continuaria como se não tivesse escutado ou visto nada. - “Então
vou ficar longe dos olhares públicos… E você pode ficar comigo, se quiser.”
Bella entendeu o significado na hora; seus olhos estavam brilhantes e ansiosos. - “E vai me
mostrar o que quis dizer, sobre o sol?”
Talvez, como tantas vezes antes, a reação dela seria oposta ao que eu esperava. Eu sorri
com essa possibilidade, lutando para voltar ao momento mais leve. - “Vou. Mas…” - ela
ainda não tinha tido sim. - “se não quiser ficar… só comigo, ainda prefiro que não vá a
Seattle sozinha. Eu tremo só de pensar nos problemas que você pode arranjar numa
cidade daquele tamanho.”
Os lábios dela se juntaram; estava ofendida.
- “Phoenix é três vezes maior do que Seattle - só em termos de população. Em tamanho…”
- “Mas ao que parece sua hora não ia chegar em Phoenix” - eu disse, cortando suas
justificações. - “Então é melhor ficar perto de mim.”
Ela podia ficar para sempre e ainda não seria o suficiente.
Não devia pensar desse jeito. Nós não tínhamos para sempre. Os segundos que passavam
contavam mais do que já haviam contado antes; cada segundo a mudava enquanto eu
continuava o mesmo.
- “Por acaso, eu não me importo de ficar sozinha com você.” - ela disse.
Não - porque seus instintos eram de trás para frente.
- “Eu sei.” - suspirei. - “Mas devia contar ao Charlie.”
- “Por que diabos eu faria isso?” - ela perguntou, parecendo horrorizada.
Olhei para ela, as visões que ainda não conseguia reprimir girando, nauseantes pela minha
cabeça.
- “Para me dar um pequeno incentivo para leva-la de volta.” - eu sibilei. Ela devia me dar
isso - “Uma testemunha para me obrigar a ser cauteloso.”
Por que Alice tinha que forçar esse conhecimento para mim justo agora?
Bella engoliu ruidosamente, e me encarou com um longo momento. O que ela tinha visto?
- “Acho que vou correr o risco.” - ela disse.
Argh! Ela ficava animada em arriscar a vida? Alguma dose de adrenalina que ansiava?
Eu fiz uma careta para Alice, que encontrou meu olhar com uma expressão de advertência.
Ao lado dela, Rosalie estava encarando furiosamente, mas eu não podia ter me importando
menos. Deixa que ela destrua o carro. Era só um brinquedo.
- “Vamos falar de outra coisa.” - Bella sugeriu de repente.
Olhei de volta para ela, me perguntando como ela podia ser tão alheia ao que importava
de verdade. Por que ela não me via pelo mostro que eu era?
- “Do que você quer falar?”
Seus olhos se viraram para a esquerda e então para a direita, como se estivesse checando
que ninguém estava escutando. Ela devia estar planejando conversar sobre outro tópico
relacionado a mitos. Os olhos congelaram por um segundo e seu corpo enrijeceu, e então
ela olhou para mim.
- “Por que foi àquele lugar nas Goat Rocks no fim de semana passado… para caçar? Charlie
disse que não era um bom lugar para caminhadas, por causa dos ursos.”
Tão alheia. Continuei olhando para ela, com uma sobrancelha erguida.
- “Ursos?” - ela ofegou.
Eu sorri ironicamente, prestando atenção enquanto ela absorvia o fato. Isso a faria me
levar a sério? Alguma coisa faria?
Ela recompôs a expressão. - “Sabe, ursos não estão na temporada.” - ela disse
severamente, estreitando os olhos.
-” Se ler com cuidado, as leis só diz respeito a caça com armas.”
Ela perdeu o controle de seu rosto por um momento. Sua boca se abriu.
- “Ursos?” - ela disse outra vez, uma pergunta experimental dessa vez, não um ofego de
choque.
- “Os pardos são os preferidos de Emmett.”
Eu observei seus olhos, vendo-a se organizar.
- “Hmmm “- ela murmurou. Pegou um pedaço de pizza, olhando para baixo. Ela mastigou
pensativamente, então tomou um gole da bebida.
- “E aí” - ela disse, finalmente olhando para cima. - “Qual é o seu preferido?”
Eu achei que devia ter esperado algo assim, mas não tinha. Bella era sempre interessante,
no mínimo.
- “O leão da montanha.” - eu respondi bruscamente.
- “Ah.” - ela disse em uma voz neutra. Seus batimentos cardíacos continuaram estáveis e
regulares, como se estivéssemos discutindo um restaurante preferido.
Ótimo, então. Se ela queria agir como se isso não fosse nada incomum…
- “É claro que precisamos ter o cuidado de não causa impacto ambiental com uma caçada
imprudente.” - Eu disse a ela, minha voz desatada e sem emoção. - “Tentamos nos
concentrar em áreas com uma superpopulação de predadores… na maior extensão que
precisarmos. Sempre há muitos cervos e veados por aqui, e eles vão servir, mas que
diversão há nisso?”
Ela escutou com uma expressão educadamente interessada, como se eu estivesse
passando uma lição de casa. Tive que sorrir.
- “Que diversão?” - ela murmurou calmamente, mordendo outro pedaço de pizza.
- “O início da primavera é a temporada de ursos preferida de Emmett…” - Eu disse,
continuando com a lição. - “Eles estão saindo da hibernação, então são mais irritadiços.”
Setenta anos depois, e ele ainda não tinha superado o fato de ter perdido aquela primeira
briga.
- “Não há nada mais divertido do que um urso pardo irritado.” - Bella concordou, acenando
solenemente.
Não consegui reprimir uma risadinha quando sacudi a cabeça com a calma ilógica dela.
Tinha que ser fingida. - “Me diga o que realmente está pensando, por favor.”
- “Estou tentando imaginar… mas não consigo” - ela disse, a pequena ruga aparecendo
entre seus olhos. - “Como vocês caçam um urso sem armas?”
- “Ah, nós temos armas” - eu disse a ela, então abri um largo sorriso. Esperava que ela se
encolhesse, mas ela ficou parada, me olhando. - “Mas não do tipo que consideram quando
redigem as leis de caça. Se já viu um ataque de urso pela televisão, deve poder visualizar
Emmett caçando.”
Ela espirou em direção a mesa onde os outros sentavam, e tremeu.
Finalmente. Então eu ri comigo mesmo, porque parte de mim queria que ela continuasse
alheia.
Seus olhos escuros estavam arregalados e profundos quando voltou a me olhar. - “Você
também é como um urso?” - ela perguntou, quase sussurrando.
- “Mais como o leão, ou é o que me dizem.” - disse a ela, lutando para parecer desatado
novamente. Talvez nossas preferências sejam indicativas.
Os lábios dela se levantaram um pouco nos lados. - “Talvez.” - ela repetiu. E então a
cabeça dela pendeu para o lado, e curiosidade estava inesperadamente clara em seus
olhos. - “É uma coisa que eu poderia ver?”
Eu não precisava das imagens de Alice para ilustrar esse horror - minha imaginação já era
boa o suficiente.
- “Claro que não!” - rosnei para ela.
Ela se desviou para longe de mim, seus olhos surpresos e assustados.
Eu me afastei também, querendo deixar algum espaço entre nós. Ela nunca iria ver, iria?
Ela não faria nenhuma coisa para me ajudar a mantê-la viva.
- “É assustador demais para mim?” - ela perguntou a voz composta. Seu coração, no
entanto, ainda estava se movimentando em tempo dobrado.
- “Se fosse assim, eu levaria você esta noite” - eu revidei pelos dentes. - “Você precisa de
uma dose saudável de medo. Nada pode ser mais benéfico para você.”
- “Então por quê?” - ela pediu, sem recuar.
A encarei sombriamente, esperando que ela ficasse com medo. Eu estava com medo. Podia
imaginar muito claramente Bella enquanto eu caçava…
Os olhos delas continuaram curiosos, impacientes, nada mais. Ela esperou por sua
resposta, sem desistir.
Mas nossa hora tinha terminado.
- “Depois.” - eu repreendi, e me pus de pé. - “Vamos nos atrasar.”
Ela olhou ao seu redor, desorientada, como tivesse esquecido de que estava no almoço.
Como se tivesse esquecido que estávamos na escola - surpresa que nãos estivéssemos
sozinhos em algum lugar particular. Eu entendia exatamente esse sentimento. Era difícil
lembrar do resto do mundo quando eu estava com ela.
Ela se levantou rapidamente, sacudindo a cabeça uma vez, e então jogou a mochila no
ombro.
- “Depois, então.” - ela disse, e eu pude ver a determinação se formar em sua boca; ela ia
me segurar nesse assunto.

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